sábado, 15 de outubro de 2011

Comprador com ênfase na DOR


Ninguém está livre de embaraços, justamente porque os embaraços ocorrem em momentos inesperados e nos pegam desprevenidos, deixando qualquer um com as calças na mão, mesmo que esteja de bermuda, saia ou pelado. Aconteceu algo assim comigo há algum tempo atrás (anos, meses ou dias, o que importa?), quando meu filho me perguntou se a palavra “comprador” era oxítona, paroxítona ou proparoxítona, ou seja, nada muito grave, a não ser pelo fato de que mesmo tentando acordar os neurônios que ainda achava que tinha mantido da época deste tipo de aprendizagem, não encontrei nenhum.

Forcei o cérebro tentando buscar algum tipo de lembrança daquele período, mas tudo que me vinha na cabeça eram os horários dos intervalos na cantina da escola e as festas nos finais de semana. Comecei a ficar preocupado, martelando de forma pausada a palavra em minha mente: “com-pra-dor”, “COM-PRA-DOR”.

Lembrei de algo sobre uma tal de sílaba tônica, que era forte o suficiente para comandar o resto da tropa textual das palavras, e que provavelmente tinha uma certa responsabilidade no hora de definir quem é quem entre aquele trio de irmãs “xitonas”.

No caso da palavra comprador, em um primeiro momento a dor parecia ser a silaba mais forte, algo totalmente plausível, já que a dor é realmente algo forte e capaz de subjugar qualquer um, seja ele um ser vivo ou sílaba.

A dor prevalecendo sobre a compra, a dor de comprar, ou melhor, a dor do comprador em se tornar vítima atroz de seu objeto de desejo. Veio a minha mente a frase: “cuidado com o que desejas”, por que juntar o ato de comprar com o sufixo de dor? (e neste caso a dor seria realmente um sufixo?). Por que somos seres tão frágeis ao ponto de sofrermos com nossos próprios desejos? E o que é pior, por que a malditas regras de português pareciam ter me abandonando?

Senti-me vencido, tanto pelo sentimento de ignorância de alguém que perdeu algo que sofreu para aprender e que possivelmente não aprendeu, quanto pelo fato de não ter a capacidade de manter em minha memória o fruto daquele aprendizado. Toda esta reflexão (a própria palavra “reflexão” já formava dúvidas em minha cabeça sobre sua formação ortográfica) acabou me deixando ainda mais confuso, confessei ao meu filho que não sabia a resposta correta para aquela pergunta, mas que iria procurar sobre o assunto, e procurei.

Recorri ao meu professor virtual “Google”, de onde fiquei sabendo o que já suspeitava, comprador é uma oxítona, pois neste caso a vogal tônica está realmente na “dor”. Dúvida respondida, mas a insegurança permanece, até quando será possível guardar esta descoberta em minha mente? Por garantia anotei tudo em uma folha de papel e transformei neste texto, bem mais difícil de perder do que minhas recordações.

Acho que logo estas regras voltarão a se apagar de minha memória, dando lugar aos escândalos políticos do momento, aos novos hits musicais das rádios, as novas vitórias e derrotas da vida, e a novas perguntas sobre temas diversos, cujas respostas por algum motivo teimam em não querer ficar alojadas em minhas lembranças.

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