sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Natal de "S"

 

 

MENSAGEM AOS LEITORES: Olá meus jovens leitores de todas as idades, antes de iniciar o último texto de 2010 (estou fugindo para praia por alguns dias, longe de micros, internet, telefones, etc.), quero lhes dizer que este ano foi bem atípico para mim. Iniciei 2010 pensando seriamente em parar de escrever (já que até mesmo as tentativas de divulgação do livro e o lançamento do vídeo de humor que fiz ficaram aquém de minhas expectativas, não conseguindo fazê-las fluir nem mesmo através de meus contatos). Eu cogitei em largar de vez esta minha amante caprichosa que é a escrita (que muitas vezes considero como uma praga irritante que domina minha mente e a qual trato como uma Rainha) e me contentar em utilizar meu tempo livre para dar mais atenção a minha segunda amante, a leitura, tantas vezes deixada de lado. Mas desisti de desistir, pois me dei conta de que sou um mero escravo totalmente submisso aos mandos e desmandos da escrita (isso não significa que estou dizendo que escrevo bem ou mal, apenas que não governo esta vontade). Não posso abandonar a escrita, simplesmente porque estou preso a ela por um desejo inexplicável. A única opção de liberdade seria ela me abandonar, largando as cordas que me prendem para que enfim eu possa encerrar a lida de tentar ser lido. Este ano alcancei e ultrapassei a marca de 300 leitores diretos, algo que me gratifica mesmo sem saber quantos de vocês realmente lêem os textos que envio. Quantos me permitem esta comunhão entre autor e leitor, doando para mim o seu precioso tempo. De qualquer modo, sendo você um leitor assíduo, eventual ou ausente, lhe agradeço a oportunidade de poder ter feito parte de sua vida, mesmo que através de apenas um único e singelo texto. Grande abraço natalino e de ano novo de novo (já que todo ano tem novamente de novo e de novo um ano novo). Boas leituras. ABC.

 

P.S: Mas se por acaso não receberem mais meus textos a partir de 2011 é porque o escritor que existia dentro de mim finalmente foi embora.

 

 

SOBRE O TEXTO A SEGUIR: Para quem não leu o texto “A arma (parte I)” vale lembrar que na época do desarmamento passei a escrever alguns esboços sobre o assunto em forma de contos, este é o segundo texto que fiz sobre o tema, onde a ideia seria transformar os textos em um livro que acabou engavetado, mas resolvi passar a publicar algumas de suas partes para não deixar o conteúdo totalmente esquecido. São textos fortes e pesados, por isso aos que forem continuar lhes desejo uma boa leitura...

 

A ARMA (PARTE II) – O Natal de “S”

(Autor: Antonio Brás Constante)

 

Ela tinha feito 22 anos a poucas semanas. A inicial de seu nome era “S”, e este seria o pior Natal de sua vida. A consciência foi voltando ao seu corpo lenta e dolorosamente. Ela sentiu a laje fria onde estava deitada, seminua e indefesa. Suas roupas rasgadas e ensangüentadas. Tinha alguns dentes quebrados e sentia na boca um gosto nauseante de sangue e esperma. Seu corpo estava repleto de hematomas, advindos dos chutes, socos, tapas e mordidas que havia levado. Uma de suas costelas parecia trincada. A perna direita estava bem machucada.

 

Era madrugada do dia 25 de dezembro. A garota mal se lembrava de como foi parar ali, pois sua mente parecia ter bloqueado parte dos horrores pelos quais passou, na tentativa de lhe manter um pouco de sua sanidade. Ela estava voltando para casa do serviço quando o monstro-humano apareceu, e antes que pudesse perceber já estava dentro do carro dele, arrastada de forma brutal e nocauteada com um violento soco no rosto. Quando voltou a si já estava naquele lugar sujo e assustador, foi então que o terror começou. Ele bateu muito nela enquanto a estuprava, saboreando o sofrimento que causava, e quando achou que ela havia desmaiado, resolveu urinar em cima de seu corpo inerte, por pura perversão. Mas desta vez o maníaco cometera um erro, talvez por ela vir a ser a sua quinta vítima, ele tivesse ficado mais confiante e sujeito à falhas, pois não a amarrou ou drogou como as outras.

 

O monstro havia recebido a alcunha de assassino do Natal, algo que lhe deixava com certo orgulho por seus “trabalhos” serem reconhecidos pela mídia. Nos últimos anos ele sempre escolhia uma vítima aleatoriamente nesta época do ano. Seqüestrava, espancava e violentava a mulher. Depois a estrangulava e esquartejava, largando seus pedaços em vários pontos da cidade onde estava (sempre uma cidade diferente).

 

A garota, mesmo assustada, conseguiu a frieza necessária para manter a calma, fingindo que continuava desmaiada. Esperou até que o brutamontes se afastasse (provavelmente ele estaria indo ao carro para pegar mais bebida, ou quem sabe um facão para terminar o serviço), e iniciou sua fuga. Não conseguia correr, pois sua perna doía muito, mas mesmo mancando tentou se afastar o mais rápido que podia do seu cativeiro.

 

Descobriu que estava em uma zona aparentemente abandonada da cidade, um lugar desolado mesmo naquela época do ano. Havia prédios velhos de estrutura danificada e aparência maltratada e, o que era mais assustador: Ninguém para pedir ajuda. Nem um automóvel. Nem um pedestre. Mas ela não estava sozinha, mesmo distante podia sentir a presença do seu algoz cada vez mais perto, que a esta altura já havia percebido sua fuga.

 

Tomada pelo desespero S acabou entrando em um beco, na esperança de se esconder, mas se deu conta (somente quando já era tarde demais) de que o lugar era sem saída. O homem parou na entrada do beco. Estava chapado e alcoolizado. Ao perceber que não havia saída dali começou a rir da mulher, dizendo todas as atrocidades que faria com ela antes de matá-la. Ele era gigantesco perto dela. Tinha mais de um metro e noventa, e quase cento e vinte quilos, enquanto ela tinha estatura mediana, um belo corpo. Era loira (pintava os cabelos), e olhos extremamente atraentes, mesmo quando assustados, apesar de estarem inchados.

 

A única luminosidade presente era da lua cheia, testemunha dos acontecimentos grotescos que ali se desenrolavam, e que parecia observar tudo placidamente com seu olhar de prata.

 

Ele foi se aproximando vagarosamente de S, tirando a roupa em uma espécie de strip-tease profano. Um pouco de saliva escorria do canto de sua boca, descendo pelos fios de barba de seu queixo.

 

Ela tropeçou no lixo e caiu. Sabia que não adiantava gritar, por isso foi se arrastando em silêncio cada vez mais para o fundo do beco, como se isso pudesse de alguma forma salvá-la.

 

O ser boçal e animalesco já estava totalmente nu e se preparava para atacá-la. Não tinha pressa, pois queria aproveitar cada momento sorvendo o medo que inspirava em sua vítima. A jovem em um último ato de desespero tentou encontrar no meio do lixo algo para se defender, como um pedaço de madeira ou uma garrafa.

 

Quando tudo parecia perdido para S, algo chamou sua atenção. Escondida em meio a alguns jornais velhos ela encontrou uma arma. O que S não sabia e neste momento não importava, era o fato de aquela arma ter parado ali há cerca de três dias atrás. Um assaltante encontrara o artefato em uma casa que havia arrombado, quando foi surpreendido pela chegada do dono da residência. De posse da arma o ladrão deu três tiros no morador, deixando-o morto no próprio gramado. O meliante fugiu da cena do crime e, após andar muito pela cidade, ficou com medo de continuar com a arma, pois caso fosse apanhado ela poderia incriminá-lo, por isso entrou naquele beco e largou-a no meio dos jornais, para quem sabe em outra hora voltar para vir buscá-la - Nota do autor: ver o texto “A ARMA (parte I)”, disponível em: abrasc.blogspot.com.

 

A jovem não acreditava no que seus olhos viam. Pegou a arma sepultada durante três dias em meio a uma cova de jornais velhos e a ressuscitou em suas mãos, sentindo o calvário de medo, desespero e dor sumirem de dentro de sua alma. O psicopata já estava bem próximo a ela, e quando percebeu o que a jovem segurava parou por um momento seu avanço. Mas ele era o predador e ela apenas uma presa insignificante. Disse para mulher largar a arma, e que se ela não fizesse isso ele a tiraria dela e lhe espancaria a coronhadas, disse muitas coisas, disse muita merda.

 

S permanecia caída e meio que de joelhos na frente dele, mas era outra pessoa, havia se transformado diante do poder e da segurança que agora repousava em suas mãos. Mirou em um ponto do corpo do marginal e disparou o primeiro tiro. A bala transpassou e arrancou parte dos testículos do homem, que caiu de joelhos tomado pela dor.

 

A mulher então se levantou calmamente. Suas mãos não tremiam mais. Depois de ser tantas vezes subjugada por aquele monstro, agora era ela que estava de pé e ele de joelhos. Ele gritava de ódio e dor, vociferando como um animal ferido e praguejando toda sorte de impropérios. Dizia com voz agonizante que iria matá-la ainda mais lenta e dolorosamente. Mas ela parecia não escutar as ameaças, foi apenas circulando em volta do homem caído, até se colocar atrás dele.

 

Ela segurou a arma com força e desferiu uma coronhada na cabeça do maníaco. Com a pancada ele bateu com o rosto no chão ficando com os quadris erguidos e expostos. Então ela fez o impensável. Penetrou com o cano da arma as ancas do homem, que gritou de forma excruciante.

 

Com um leve sorriso nos lábios, que tanto poderia ser de prazer ou loucura, S enfim apertou o gatilho, disparando novamente. A bala varou as entranhas do monstro-humano dando um fim a sua vida de crimes e mortes. De escrava submissa e servil S passou a ser Rainha dominante  e triunfante de seu próprio destino.

 

A moça permaneceu um longo tempo imóvel, olhando para o nada como se estivesse em transe, até ouvir o badalar dos sinos que começaram a tocar ao longe, anunciando o amanhecer de um novo dia, era Natal. A luz do sol aos poucos foi iluminando o lugar de forma redentora. S saiu do beco caminhando em direção ao som dos sinos, renascida do inferno pelo qual passou, levando traumas que talvez nunca fosse curar, e deixando no beco a casca de carne morta do seu algoz, empalada com uma arma enfiada no rabo. Uma arma que ainda não havia terminado sua sina, e que poderia vir a ser o instrumento de novas mortes, executando sem ponderar a vontade soberana dos seres humanos que se servissem de seu poder.

 

FAZENDO MEU PÉ DE MEIA, OU SIMPLESMENTE, NOTA DO AUTOR: Aproveitando o clima natalino e com ele toda a tradição de se dar presentes de Natal e amigo secreto, vale lembrar que um livro é sempre uma boa opção de presente, e já que oferecer o próprio livro não é pecado (pecado seria atirá-lo na cabeça do Papai Noel, ou entupir alguma privada com ele), fica a dica. Caso tenham gostado da ideia, basta adquiri-lo através das livrarias Saraiva, Cameron ou no próprio site da editora AGE: www.editoraage.com.br. E se quiserem adquirir o livro AUTOGRAFADO, me enviem um e-mail para: abrasc@terra.com.bre conversamos.

 

NOVA NOTA DO AUTOR: Produzi um filme no Youtube (escrito, dirigido e encenado por este eterno aprendiz de escritor), se quiser assistir ao filme e quem sabe dar boas risadas, basta acessar o Youtube e procurar por: “3D – Hoje é seu aniversário” (o filme foi feito em padrão 3D). Quem quiser também pode me pedir uma cópia em PDF do meu livro: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”, disponível pela editora AGE (www.editoraage.com.br), ou para fazer parte de minha lista de leitores, que recebem semanalmente meus textos, para isso basta enviar um e-mail para: abrasc@terra.com.br.

 

Site: recantodasletras.uol.com.br/autores/abrasc

 

ULTIMA DICA: Divulgue este texto aos seus amigos (vale tudo, o blog da titia, o Orkut do cunhado, o MSN do vizinho, o importante é espalhar cada texto como sementes ao vento). Mas, caso não goste, tenha o prazer de divulgá-lo aos seus inimigos (entenda-se como inimigo, todo e qualquer desafeto ou chato que por ventura faça parte de um pedaço de sua vida ou tente fazer sua vida em pedaços).

 

 

 

 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Presentes para se fazer presente


(Autor: Antonio Brás Constante)

Se for um abraço, que me envolva em seus braços;
Se for um beijo, que eu sinta sua boca;
Se for morder, que use os dentes;
Se for um tapa, bata com a mão;
Se for um palavrão, que seja feio;
Se for um grito, que seja alto;
Se for um elogio, que seja verdadeiro;
Se for uma ameaça, que seja falsa;
Se for uma caneta, que escreva;
Se for um sorriso, que mexa seus lábios;
Se for vingança, conceda o perdão;
Se for uma lágrima, que seja salgada;
Se for dinheiro, seja generoso;
Se for um tiro, que erre;
Se for um palpite, que acerte;
Se for engraçado, que faça rir;
Se for um olhar, que toque minha alma;
Se for um doce, que seja doce;
Se for um filme, que não seja chato;
Se for Mulher, que faça um afago;
Se for Homem, que traga uma garrafa de trago;
Se for um charuto, jogue fora;
Se for uma aventura, que valha a pena;
Se for um livro que seja o livro: “Hoje é seu aniversário – prepare-se”
Se for um cálice de veneno, cruzemos as taças;
Se for frio, que arrepie;
Se for luz, que ilumine;
Se for seu coração, que seja especial;
Se for bacon, que seja frito;
Se for um sentimento, que marque;
Se for uma emoção, que comova;
Se for uma dor, que passe;
Se for solidão, que desapareça;
Se for desprezo, guarde-o para si;
Se for melancolia, que entristeça;
Se for uma prece, que abençoe;
Se for um carinho, que me toque;
Se for ruim, que não aconteça;
Se for a morte, reconsidere;
Porém, se for apenas um pensamento entregue através de um sussurro, será eterno, pois guardarei sempre na lembrança que você é um pão-duro.

NOVA NOTA DO AUTOR: Produzi um filme no Youtube (escrito, dirigido e encenado por este eterno aprendiz de escritor), se quiser assistir ao filme e quem sabe dar boas risadas, basta acessar o Youtube e procurar por: “3D – Hoje é seu aniversário” (o filme foi feito em padrão 3D). Quem quiser também pode me pedir uma cópia em PDF do meu livro: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”, disponível pela editora AGE (www.editoraage.com.br), ou para fazer parte de minha lista de leitores, que recebem semanalmente meus textos, para isso basta enviar um e-mail para: abrasc@terra.com.br.

Site: recantodasletras.uol.com.br/autores/abrasc

ULTIMA DICA: Divulgue este texto aos seus amigos (vale tudo, o blog da titia, o Orkut do cunhado, o MSN do vizinho, o importante é espalhar cada texto como sementes ao vento). Mas, caso não goste, tenha o prazer de divulgá-lo aos seus inimigos (entenda-se como inimigo, todo e qualquer desafeto ou chato que por ventura faça parte de um pedaço de sua vida ou tente fazer sua vida em pedaços).

PARA OS FÃS DE LOST (HUMOR SEM PUDOR)


(Autor: Antonio Brás Constante)

NOTA DO AUTOR: Em homenagem ao fim do seriado LOST, deixo abaixo alguns textos parodiados do seriado, que foram escritos já há algum tempo por mim, porém, somente agora resolvi publicá-los. Aos que curtem LOST uma boa leitura, e aos que não conhecem, está aí uma boa chance de conhecer (ou não) um pouco sobre os mistérios de LOST.

OBS: coloquei ao final destes textos uma relação de todos os personagens que lembrei, aconselho a quem nunca viu o seriado a dar uma olhadinha nos personagens e suas “características” antes de iniciar a leitura do primeiro capítulo.

LOST - HUMOR (Achados e bem perdidos).

Prólogo: LOST – HUMOR” A história acontece em um prédio onde dezenas de pessoas caem de elevador em uma misteriosa sessão desativada de achados e perdidos. O maior mistério lá é saber como couberam tantas pessoas dentro de um único elevador.

Capítulo 1

A consciência vai voltando aos poucos. Seus ouvidos começaram a captar ruídos dispersos, como o som de faíscas elétricas, ecos de cachorros latindo, ferro retorcido sendo ainda mais retorcido, o barulho de alguém soltando um pum ao longe (porém, suas narinas discordam desta informação, identificando que pelo cheiro, a referida pessoa não deve estar tão longe assim).

Jheg enfim abre os olhos e se vê deitado sobre uma floresta de papéis, poeira e objetos velhos. Várias cestas repletas de relatórios transbordando por seus grandes bocais. Ao focar o olhar em uma das folhas, consegue perceber no início de cada item ali descrito a frase: “Lost and found”. Com algum esforço começa a se levantar, apoiando-se em algumas caixas amontoadas perto dele, com os dizeres: “Cuidado – Frágil. Evite se apoiar sobre esta caixa”. Algo se quebra dentro das caixas.

Um ruído lhe chama a atenção. Jheg percebe um movimento em uma das cestas de papel. O barulho vai ficando maior e mais assustador. Ele sente um arrepio no corpo, mas antes que possa esboçar qualquer reação a cesta cai para o lado e dela sai um minúsculo cão. Uma criaturinha que se tivesse asas poderia até ser uma barata de tão feia. O cachorro se aproxima de Jheg, cheira seus sapatos, roça de leve a barra de sua calça e sem avisar levanta a perninha e urina em sua perna. O homem dá um pulo para o lado e o cachorro satisfeito por achar um banheiro, some em meio aos entulhos.

O buraco do elevador mais parece uma caverna. Fios elétricos em curto soltam faíscas longas. Algumas pessoas encontram-se desmaiadas, outras caminham de um lado para outro. Uma da portas do elevador está no chão, parecendo uma tapeçaria com um par de pernas embaixo dela, lembrando vagamente a sujeira escondida embaixo do tapete. Jheg, em meio ao caos, consegue perceber um rapaz quase histérico tentando reanimar uma senhora que jaz deitada ao seu lado. Ele se aproxima e tenta acalmar o rapaz, que descontrolado lhe explica que a mulher previu a queda do elevador, mas ele não acreditou, e o que é pior, ela também disse que previu os números da mega-sena. Nisto a mulher começa a murmurar: 4... 8...

Jheg grita para o rapaz: ”Rápido, encontre uma caneta!”.
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Flashback de Jheg:

Jheg chega ao saguão de um gigantesco e misterioso complexo de prédios, levando uma caixa de sapatos debaixo do braço. Logo é abordado por um dos atendentes do lugar.

-          Bom dia. O que o senhor deseja?

-          Estou querendo ir para o octogésimo andar.

-          Certo, o que o senhor leva na caixa?

-          São os restos de meu pai.

-          As cinzas dele?

-          Não, apenas a peruca e uma dentadura. Foi só isto que sobrou de meu pai...

-          Entendo. Se o senhor vai para o octogésimo andar, é bom saber que chamamos este andar de Sidnei. Cada andar aqui recebe um nome, para facilitar a orientação.

-          Interessante, e o octogésimo deve ter recebido o nome de Sidney, em homenagem a cidade Australiana...

-          Não. O nome é Sidnei mesmo, que é o nome do faxineiro daquele andar. É a sua primeira vez neste prédio?

-          Sim, não achei que este prédio fosse tão grande...

-          Todos ficam surpresos. Este prédio já foi uma fantástica fábrica de chocolates, mas o antigo dono, um tal de Willy Wonka, começou a fazer doce nos negócios e acabou perdendo tudo para um renomado avarento. Pelo que dizem por aí, anos depois esse avarento recebeu a visita de três fantasmas, um do passado, outro do presente e outro do futuro. Ele acabou meio louco, sabe. Por fim o prédio se transformou neste gigantesco complexo de múltiplos andares e salas. Por isso é bom o senhor não errar de elevador, pois o fundador daqui criou um sistema com dezenas de elevadores, que vão para todos os lugares e em todos os sentidos. Tem gente que até diz que esses elevadores são capazes de andar através do tempo e do espaço...

-          Tempo e espaço? Sei, foi assim que meu pai morreu...

-          Ele entrou em um de nossos elevadores?

-          Não, mas ele também bebia e acabava falando esquisitices, até o dia em que se engraçou com a namorada de um lutador de jiu-jítsu em um baile funk. Só o que sobrou foi à peruca e a dentadura dele.

-          Saiba que não estou inventando, senhor...?

-          Jheg.

-          Jegue?

-          Não! Meu nome é Jheg com “g” mudo, pronuncia-se “Di-é-g”.

-          Sim, claro. Agora entendi, “Di-gi-é-gui”...

-          Nããão! Há, deixa pra lá. Qual elevador eu pego?

-          O de número 15.

Jheg entra no elevador tropeçando em uma bengala. As portas iam começando a fechar quando todos escutam alguém gritando: “Segura! segura!”. Logo entra o dono da voz, um homem imensamente gordo e cabeludo. Após entrar esbaforido no elevador, ele diz para mulher que estava na porta:

-          Poxa, obrigado por segurar a porta moça, geralmente às pessoas quando me vêem deixam o elevador fechar antes de eu chegar, só de medo do meu peso... E... E... (Hugo então percebe que a moça está usando óculos escuros e carregando uma bengala)... E... Você é cega? Foi mal, me desculpa. É que sou meio atrapalhado.

-          Tudo bem, mas promete que da próxima vez que entrar em um elevador tomará mais cuidado, pois você entrou pisando bem em cima do meu pé, e com tanta força que provavelmente eu deva acabar trocando minha bengala por um par de muletas...

(CONTINUA...)
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MICHAEL E FILHO
(O diálogo a seguir está situado entre o capítulo 2 da primeira temporada e o capítulo 387 da décima sexta temporada, mais ou menos).

- Filho, por que você me odeia tanto?

- Pai, pensa bem, sou quase um adolescente, e a grande maioria dos adolescentes se revoltam e passam essa fase odiando seus pais. Isso sem falar que você é o único que não pega nenhuma das gatas deste lugar. Poxa, pai. Até o Rodrigo Santoro que atuou somente uma meia dúzia de vezes conseguiu uma gostosona. Como o senhor quer que eu não me envergonhe?

- Tá legal filho. Só não esqueça que o Santoro é Brasileiro, e todo brasileiro tem fama de pegador.

- Mas não é só isso, é que de todos os personagens deste seriado, fui ter o azar de ser filho logo do cara que vai, nos próximos episódios, trair, matar, e enganar os seus amigos, fugindo covardemente depois disso.

- Espera um pouco aí, se está sabendo de tudo isso, então você deve ter algum tipo de poder especial. Legal filho! Poderíamos tentar emprego na rede Record, tem aquela novela dos “mutantes”, quem sabe a gente até consegue uma boa grana...

- Não é nada disso, pai. Somente sei de todas essas coisas porque sou da geração internet, entende? Estou sempre acessando chats, fóruns, FAQs, e vendo o que anda rolando em tudo quanto é seriado estranho que aparece.

- Mas, e aquela história de você aparecer de forma misteriosa para os outros de vez em quando?

- Essa é fácil de explicar, afinal ainda sou praticamente uma criança, e o senhor sabe que criança vive sumindo e aparecendo do nada, em apenas um piscar de olhos...

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LOST - HUMOR (Achados e bem perdidos).
(Autor: Antonio Brás Constante)

Segue abaixo alguns dos personagens mais conhecidos e devidamente caricaturizados (ou algo assim) para deleite de quem quiser também se perder nestas mal traçadas linhas com trejeitos de humor.

Hello Kate – a gatinha e mocinha do filme, que luta, atira, corre, nada, enfrenta mil perigos sem nunca parar de sorrir. Apesar de ser boa de briga, de ser boa de trilhas, e principalmente, de ser muito boa, ela sempre acaba sendo capturada, para ser salva pelos demais mocinhos (não tão mocinhos) do filme.

Sawyê-yê-yê (James Citroen Picasso, ou Ford, ou Fiat) – Mau-caráter, golpista, gigolô, trambiqueiro e ladrão, com cara de cafajeste, jeito de cafajeste, pinta de cafajeste e até carteirinha do clube dos cafajestes. Com todos estes atributos é considerado um dos mocinhos do filme. Além de exímio lutador e atirador, também é o reprodutor oficial do filme.

Jin Frudo – coreano que não abriu os olhos para o que sua mulher andava fazendo e acabou ganhando um chapéu de corno. Gosta de pescar lambaris enquanto sua mulher prefere os namorados. Umas das funções dele na trama é garantir o emprego do pessoal responsável pelas legendas do filme.

Sun Mio – esposa de Jin. É tão magrinha que quando fica de perfil literalmente some na tela. Tem facilidades com línguas (em todos os sentidos). Por ser filha de um mafioso, alguns acham que ela é uma baita pistoleira.

Jheg – médico, provavelmente veterinário, pois vive se envolvendo com vários tipos de animais, tais como: piranhas, vacas, galinhas, etc. Tem uma coleção de chapéus iguais aos do Jin. Ao contrário dos médicos de verdade, ele não cobra pelas consultas.

Sayd Kih – Trabalhou anos com suporte e comunicação em uma empresa de telemarketing, torturando os clientes que ligavam para lá, sendo o torturador oficial do filme e ganhando assim, uma vaga entre os mocinhos da história (dizem que torturou o roteirista, para conseguir seu papel na trama).

Hurleytão – também conhecido como bolota, rolha de poço, gordão, entre outros apelidos carinhosamente colocados por Sawyê-yê-yê. Seu personagem é realmente uma loucura, tanto que praticamente todos os seus flashbacks se passam em um manicômio.

Locke Hipi-hipi Hurra – Único representante da ala dos carecas no filme. Metido a caçador. Gostava de sair para ir caçar em bailes Funk e boates, onde perseguia lobas e panteras, mas quase sempre terminava a caçada tendo de encarar algum dragão. Foi enganado pela mãe, enganado pelo pai, e até enganado pelo autor do seriado que lhe prometeu uma peruca. Perito em localizar pistas desde os tempos da escola. Chegou a encontrar com facilidade uma pista de corrida e outra de dança ainda no primário.

Ana Policia – Ex-policial, com provável passagem pelo esquadrão da morte. Gosta de interrogar prisioneiros amputando seus dedos. Há quem acredite que pessoas famosas foram interrogadas por ela, como por exemplo: o presidente Lula (alguns indivíduos maldosos poderão dizer que no caso dele o que foi extraído teria sido um naco do cérebro). É exímia atiradora conseguindo acertar com precisão o piercing no umbigo da personagem Shannon (causando sua morte), sem nem precisar mirar.

Vincentavo – um dos membros mais misteriosos do seriado, que fica sempre repetindo a mesma coisa: “au au”. Também é o mais peludo dos participantes. Gosta de abanar o rabo e enterrar ossos (fato que passou a ser feito pelos demais sobreviventes que começaram também a enterrar os diversos mortos e vivos do filme). Por ser difícil imaginar um labrador em um elevador, a raça do cachorro foi trocada por um pincher. Basicamente a função deste cachorro é fugir, para que alguns personagens corram atrás dele e se metam em confusão por causa disto.

Juli-ET – Diferentemente das outras loiras do seriado, Juli é extremamente inteligente (possível alteração genética em seu DNA). Ela é uma mulher dócil, gentil, que gosta de música romântica, de clubes de leitura e de cozinhar bolinhos, ao mesmo tempo em que bate, dá choques, mata e mente para os outros, que neste caso não são os outros, pois os outros são outros. Mas para não confundir eles (que não são os outros) com os outros que realmente são outros, vamos parar por aqui.

Dezmontes – Após algum tempo perdido no seriado ganhou poderes de prever o futuro, e está só esperando ser resgatado para comprar um bilhete premiado e com o dinheiro poder cortar o cabelo. Provavelmente é o único que conhece o final deste seriado, pois até o quinto episódio de LOST mesmo os roteiristas ainda parecem perdidos sobre a história.

Charli Eirah – Aspirante de uma carreira (deste que seja purinha). Viciado em cachaça do tipo “long neck”, com o casco em formato de santinha. Tentou entrar para o time dos casados se enforcando com uma loira, mas acabou quase enforcado numa árvore.

Boomané (sobrenome: Zaão) – Parece estar sempre disposto a levar a pior, ficando na pior, uma vida inteira com seus pensamentos na pior. É tão teimoso quanto o personagem Boone do filme oficial, que não conseguindo morrer em decorrência da queda de sua aeronave, procurou outro avião na floresta para enfim se matar.

Shannon (sobrenome: “Pior”) – irmã de faz-de-conta de Boomané. Tenta provar para todo mundo que não é uma patricinha fútil e oferecida. Conta para quem quiser ouvir que a frase que mais repetia para seu ex-namorado era: “Só casando!”. (Atenção: Zando, o ex-namorado de Shannon, não aparece neste filme).

Claire Ianaddah – Parece ter vindo para ilha a passeio. Basicamente aparece alternando entre os estados de bom humor discreto e mau humor concreto. Sua maior colaboração foi ter dado a luz em um momento sombrio.

Mr. But Eko – Padre que comprou o diploma de santidade. Traficante. Revendedor de estátuas de santa Genoveva, cheias de cachaça. Aproximava as almas de Deus, tirando-lhes desta vida diretamente para vida eterna.

Michael Juddaz – Assim como o apóstolo Judas da bíblia, Michael também traiu seus amigos, mas ao invés de ser por trinta moedas, no caso dele foi para salvar seu filho que na época pesava uns trinta quilos. Ele auxiliou os outros a capturar seus amigos e ajudou o pessoal dos recursos humanos a diminuir a folha de pagamento do filme, matando meia dúzia de atores durante seu ato de traição.

ITAH SOUMD OSOUTROS – Membro dos outros, infiltrado que nem água de chuva em laje mal feita. Sua missão é descobrir os segredos da turminha dura na queda e seqüestrar as mulheres grávidas da trama. Ele erroneamente quis seqüestrar o Hugo (vulgo: Harleytão) achando que ele estaria grávido de trigêmeos...

Daniele Rosseu (lê-se: “Russô”, Mas quem não é) – Está há tantos anos presa no lugar que seu prazo de validade já venceu. Utilizou diversas caixas de lego para montar armadilhas que só funcionam contra seus amigos. Deixou tocando uma gravação com pedido de socorro na parte final de uma antiga fita de musiquinhas infantis dos Teletubbies, esquecendo-se que ninguém consegue escutar uma fita dessas até o fim.

Benjamin – O Ben é mal (Ele ameaçou revelar os meus segredos se eu revelar os dele).

Monstro da fumaça – algumas teorias apontam que o monstro da fumaça é na realidade uma amostra de poluição extraída de uma das chaminés de São Paulo. Outros dizem que ele realmente esteve em São Paulo, mas não agüentou a poluição de lá e fugiu disfarçado como fumaça de cigarro, mas infelizmente acabou entrando em um prédio misterioso, indo parar na ala de não fumantes, sendo dragado pelo sistema de ventilação e ficando preso junto com os demais perdidos do lugar. O tal monstro da fumaça e da poluição é capaz das piores sujeiras.

CONTINUA... (ou não, já que os outros textos que fiz sobre o LOST estão rascunhados em alguns cadernos e, provavelmente, eu não deva digitá-los para o computador).

NOTA DO AUTOR: Os amantes da leitura agora dispõem de um excelente portal chamado: www.skoob.com.br, funciona como uma rede social (tipo orkut), mas com ferramentas de leitura, tipo: Estante virtual para cadastrar seus livros, histórico de leitura, resenhas, etc. Quem quiser participar vai encontrar por lá o meu singelo livro “Hoje é seu aniversário”, não esqueçam de adicioná-lo em suas estantes, ok? Quem quiser também pode me pedir uma cópia em PDF do livro, ou para fazer parte de minha lista de leitores, que recebem semanalmente meus textos, para isso basta enviar um e-mail para: abrasc@terra.com.br.

SOBRE O AUTOR: Antonio Brás Constante se define como um eterno aprendiz de escritor, amigo e amante da musa inspiração. Lançou recentemente o livro: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”, disponível pela editora AGE (www.editoraage.com.br).

Site: recantodasletras.uol.com.br/autores/abrasc

ULTIMA DICA: Divulgue este texto aos seus amigos (vale tudo, o blog da titia, o orkut do cunhado, o MSN do vizinho, o importante é espalhar cada texto como sementes ao vento). Mas, caso não goste, tenha o prazer de divulgá-lo aos seus inimigos (entendam-se como inimigos, todo e qualquer desafeto ou chato que por ventura faça parte de um pedaço de sua vida ou tente fazer sua vida em pedaços).

OS PASTÉIS QUE VIRARAM TEXTO (leia enquanto estão quentes)


(Autor: Antonio Brás Constante)

Muitas das histórias contadas nos recantos deste gigantesco orbe, salgado e molhado, conhecido como planeta Terra, entram em nosso mundo literário pelas vivências de seus habitantes, que as espalham através da cumplicidade entre a boca de uns e os ouvidos de outros. O texto a seguir é algo neste estilo.

Tudo começa com a viagem de um jovem (nem tão jovem) que poderia ser conhecido como: Evaldo da firma de advocacia, Olinto da clínica dentária, Ricardo da padaria, Jorge da borracharia, entre tantos outros nomes, mas que chamaremos nesta narrativa apenas de Osório.

Osório resolveu passar as férias com sua família (esposa e filha) em algum lugar ao norte do País tupiniquim onde eles viviam. Viajaram para um local recheado de praias paradisíacas que pareciam verdadeiros cartões postais e de onde eram vendidos cartões postais repletos de imagens de praias paradisíacas. Vale lembrar que nas viagens tipicamente de férias, tudo tende a ser uma festa. O relógio é esquecido e o tempo passa a fluir livremente, sem importunar ninguém. A rotina dá lugar à sede de se conhecer novos lugares, bares, pousadas, pontos turísticos e restaurantes.

Em uma destas investidas turísticas Osório e família encontram um pequeno restaurante em um dos lugarejos por onde passavam e passeavam. Era um ambiente bem descontraído e agradável, temperado com um aroma delicioso. Após uma rápida consulta ao cardápio, resolvem pedir uma porção de pastéis, sendo seis de queijo e seis de camarão.

Enquanto esperavam a refeição, os três iam matando o tempo curtindo os sons do lugar e a fragrância da culinária local que se espraiava por todo recinto, vinda das outras mesas e da cozinha. Eles pareciam jogar conversa fora, o que não era totalmente verdade, já que seus ouvidos faziam um certo tipo de reciclagem cerebral dos assuntos ali discutidos, ou seja, os diálogos com pitadas de humor eram armazenados na área mental das “vivencias felizes”, as ponderações sobre as belezas do lugar ficavam no compartimento das “boas lembranças”, e qualquer tipo de comentário sobre política era imediatamente descartado, indo parar diretamente na lata de lixo destinada ao esquecimento, para não estragar o passeio.

Mas bastou passar pouco mais de meia hora de tranqüila espera ociosa e o estômago de nossos personagens já começou a querer entrar na conversa, demonstrando um vazio incômodo, que insistia em ser preenchido. Osório resolve chamar o garçom e perguntar sobre seu pedido, o garçom pede um momento, dizendo que já iria verificar e sai, sumindo por entre as mesas.

Mais meia hora se passa até que o garçom retorne. Ele chega avisando que o pedido não foi ainda entregue porque os camarões estavam em falta, podendo ser feitos apenas pastéis de queijo. O estômago de Osório pareceu não ter gostado muito daquela informação, e fez questão de enfatizar isso com ruídos pouco amigáveis. Em um misto de fome, impaciência e raiva, devidamente reprimidas pela boa educação e pelo clima de férias. Ele pede ao garçom que traga pastéis de queijo. Osório fala em um tom ainda tolerante e tentando, dentro do possível, parecer cordial, mas seus dentes semi-serrados deixavam dúvidas se ele estava esboçando uma tentativa frustrada de sorriso, ou se acabara de ser acometido por uma insuportável dor abdominal, proveniente de um ataque de apendicite aguda e inesperada.

Outra meia hora escorre pelos ponteiros do relógio até o garçom reaparecer com um ar de dúvidas e incertezas em seu semblante, e o que é pior, sem nada de pastéis em sua bandeja. Ele olha para Osório que também olha para ele, um silêncio tenso se forma entre os dois, quebrado pela pergunta derradeira do garçom:

- Moço, desculpe perguntar, mas... Vocês vão querer seis ou doze pastéis de queijo?

NOTA DO AUTOR: Os amantes da leitura agora dispõem de um excelente portal chamado: www.skoob.com.br, funciona como uma rede social (tipo orkut), mas com ferramentas de leitura, tipo: Estante virtual para cadastrar seus livros, histórico de leitura, resenhas, etc. Quem quiser participar vai encontrar por lá o meu singelo livro “Hoje é seu aniversário”, não esqueçam de adicioná-lo em suas estantes, ok? Quem quiser também pode me pedir uma cópia em PDF do livro, ou para fazer parte de minha lista de leitores, que recebem semanalmente meus textos, para isso basta enviar um e-mail para: abrasc@terra.com.br.

SOBRE O AUTOR: Antonio Brás Constante se define como um eterno aprendiz de escritor, amigo e amante da musa inspiração. Lançou recentemente o livro: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”, disponível pela editora AGE (www.editoraage.com.br).

SUPER-HERÓI – DINDHY, A MENINA QUE PERDIA OS CHINELOS

Dindhy era, aparentemente, uma menina normal que vivia em um mundo louco, tão louco quanto o nosso, mas com um detalhe: lá existiam super-heróis. Seu pai tinha superpoderes, sua mãe também, e suas tias, primos e vizinhos. Até seu cachorro e o papagaio tinham superpoderes, e o fato mais importante é que eram poderes legais, bem legais, tais como: capacidade de voar, ficar invisível, atravessar paredes, etc. Dindhy também tinha um poder, mas seu poder não lhe trazia muitas alegrias, nem impressionava a garotada, pois Dindhy era conhecida em seu mundo como: A MENINA QUE PERDIA OS CHINELOS. Algo realmente cômico para alguns, mas desanimador para a pobre garota.

Talvez você ache graça de um poder assim, mas esta capacidade peculiar de desaparecer com os próprios chinelos já salvara a vida dela e de seus amigos em várias situações, como na vez em que o Doutor Louco (sim, também existiam super vilões no mundo de Dindhy, do contrário seu universo não teria muito sentido, e seria ainda mais parecido com o nosso) tentou acabar com a cidade da menina, e teria conseguido, mas quando tudo parecia perdido o Capitão Relâmpago (pai de Dindhy) milagrosamente encontrou um chinelo perdido, próximo de onde estava preso, conseguindo arremessá-lo na alavanca responsável pela tranca das celas de contenção, soltando os outros super-heróis ali aprisionados e detendo o Doutor Louco, que teve seus planos arrasados por um simples chinelo. E de quem era aquele chinelo perdido? Da Dindhy, é claro.

No princípio a mãe de Dindhy achava que era desleixo da garota perder seus chinelos a toda hora, e o que era pior, eles acabavam reaparecendo nos lugares mais inconvenientes, como na vez em que surgiram dentro da tigela de ponche, em um evento de comemoração do aniversário da rainha Glória, um verdadeiro vexame. Mas quando seus pais descobriram que aquilo não era simples travessura de criança e sim um poder latente, a menina passou a ser treinada na esperança de que seus poderes somente se manifestassem em situações em que pudessem ser úteis, sem estragar a festa de ninguém.

Dindhy tinha um amigo chamado Cyelo (que se referia a Dindhy como sendo sua princesa), que também possuía um estranho poder. Ele controlava a fumaça dos cigarros, charutos e similares. Cyelo tinha uma aparência cansada e envelhecida, apesar de ter apenas vinte e dois anos de idade (sete a mais do que Dindhy), a explicação para isso era bem simples, pois para gerar a fumaça necessária para manipulação de seus poderes ele precisava muitas vezes fumar vários cigarros de uma vez, e como todos sabem fumar causa envelhecimento precoce.

Os poderes de Cyelo surgiram ainda no início de sua adolescência, quando conseguiu controlar a fumaça do charuto de seu Avô, escrevendo no ar um palavrão que vivia sendo dito em sua casa por seus pais e seu avô (pessoas normais e sem poderes). Mas apesar de praguejarem aquela expressão a toda hora, a família de Cyelo ficou horrorizada com ele, pois achavam indecente ver tal palavra flutuando no ar, ainda mais sendo escrita por um rapazinho cheio de espinhas, e que diferentemente deles, demonstrava ter aptidões especiais.

Pelas convenções descritas no manual supremo dos super-heróis (um livro sagrado que contava a história de Arhtim o iluminado e os doze guerreiros da luz, e de seu pai o grande SUED), Cyelo, tendo sangue heróico, somente poderia fumar para gerar a fumaça necessária ao uso de seus poderes a partir dos dezoito anos, pois não era permitido que menores de idade, “tocados pelo tom do poder”, fumassem. No máximo ele poderia atuar de forma passiva, ou seja, utilizando a fumaça do cigarro de outros fumantes para combater o crime. Por outro lado os heróis (inclusive menores de idade) poderiam mutilar e espancar supostos marginais a qualquer momento, ou mesmo destruir livremente o patrimônio alheio, desde isso ocorresse de forma heróica, mas teriam que obedecer a um rígido código de conduta, onde, por exemplo, não poderiam praguejar em público, tirar vidas (exceto em casos extremos e comprovadamente heróicos), ou expor menores de dezoito anos (dotados de superpoderes) a vícios que de alguma forma maculassem a classe de heróis, pois ostentar uma imagem ilibada junto à sociedade era dever sagrado dos super-heróis.

Uma vez Cyelo enfrentou problemas ao tentar impedir um crime em um restaurante onde era proibido fumar. Cyelo, já com dezoito anos, bem que tentou agir, chegando ao local com seis cigarros acessos na boca, mas antes que pudesse atacar o bandido, foi forçado a se retirar do recinto por um dos garçons, que disse preferir correr o risco de levar um tiro a ser vítima de um enfisema pulmonar.

Cyelo de vez em quando tentava animar Dindhy (muitos achavam que ele gostava de uma forma especial daquela garota), dizendo que seus poderes também não eram lá grande coisa, já que as mulheres se afastavam dele por causa de seu hálito de cinzeiro. Mas se havia uma coisa que sempre o motivava a continuar com aquela carreira de herói-fumante eram as gravações dos comerciais antigos que ele assistia dos cigarros MalToro e Emhollywood, com músicas empolgantes e cenas incríveis, que despertavam em qualquer um a vontade de viver e de fumar.

O futuro, porém, não seria generoso com Cyelo, que descobriria anos mais tarde que poderia manipular a fuligem dos canos de descarga dos automóveis para utilizar como arma, não precisando mais fumar para municiar de fumaça os seus poderes, mas seria tarde demais, pois nesta época ele já teria desenvolvido um tipo de câncer pulmonar.

Dindhy também acabou enfrentando problemas em seu futuro, mesmo depois de saber que através de seus poderes poderia perder qualquer coisa. Ela foi até lançada como garota propaganda de um novo produto no mercado para perda de peso. Porém, a ampliação dos próprios poderes não lhe ajudaria muito quando em uma bela noite de outono, descobriria ter perdido sua aliança de casamento (a capacidade dela em perder coisas não serviu como desculpa). A aliança acabou sendo encontrada por seu esposo Kayo das pontes Altas, na cama de seu melhor amigo, quando Kayo foi lhe fazer uma visita de cortesia para jogar uma ou duas partidas de buraco entre amigos. Isso aconteceu no dia seguinte à perda do precioso anel. Após este episódio, Dindhy perdeu o marido, a guarda dos filhos, a casa e o carro (seriam seus próprios poderes agindo contra ela?).

O derradeiro golpe de misericórdia viria quando ela soubesse que os seus anos de combate ao crime ao lado do amigo Cyelo (que muitos consideravam seu amante), teriam colaborado para que contraísse uma terrível doença, já que de tanto aspirar à fumaça dos cigarros de seu colega, Dindhy tornara-se uma fumante passiva, com mazelas irreparáveis a sua saúde. Uma parceria que se mostrou tóxica, mas bela enquanto durou.

Assim termina a história da menina que perdia os chinelos, e se por algum motivo você achou que a leitura de todo este texto foi uma tremenda perda de tempo, isto pode significar que, de algum modo, os poderes dela também afetaram você...

(Dedico este texto aos meus filhos que vivem perdendo as coisas, inclusive os chinelos, e a todas as pessoas que de alguma forma são especiais e em muitos casos acabam perdendo coisas importantes na vida, sem muitas vezes se dar conta disso...)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A essência das rosas sem perfume

As lágrimas de sangue que escorrem de meus olhos são essências de rosas sem perfume.

Cultivadas em um pomar de tristezas; sementes estéreis em uma face de incertezas;

Sou agricultor de saudades, plantadas em minha remoída memória já tão sofrida.

Regadas com dores eternas, que perambulam por uma mente que jaz em feridas.

Não há brotos em meu peito, flores coloridas ou frutos que me tragam prazer.

Somente um choro perdido, lavando e levando cada sentimento de meu ser.

Como brumas largadas ao sabor amargo do vento frio com jeito de morte.

Agora chegou o momento final, que venha enfim a tal colheita maldita,

Ceifando impiedosa a seiva podre que se tornou parte de minha vida.

Sinto-me tal qual adubo, poeira, gotas amargas de água com sal,

Sou uma casca quebrada e sem fruto, espiral de existência oca,

Folhas secas ao sol. Trincadas. Cor marrom. Empoeiradas,

Bagaço cuspido sem dó, sem sumo, sem alma, sem rumo,

Amor perdido por luto, colhido e guardado na história,

Raízes profundas da mais simples e cruel solidão.

Rosas sem perfume são exemplares da traição;

Um vampiro a gargalhar em minha jugular;

Não se engane pela beleza dessas flores;

Suas cores são matizes de dores;

Ervas daninhas e danosas;

Manancial de espinhos;

Sádicos tons florais.

Rudes Trepadeiras;

Heras venenosas;

Desatino forte.

Destino torpe.

Falsidade.

Morte...