segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Um toque sobre a essência das mãos


(Autor: Antonio Brás Constante)


As mãos estão conosco desde que nascemos. São cuidadosas mãos as primeiras coisas que encontramos ao chegarmos neste mundo pós-uterino, nos segurando e protegendo. Mãos de pulso firme batem com bondade em nossa corpórea fragilidade nos fazendo chorar, respirar, viver, e em outras vezes, mãos covardes espancam com maldade o nosso corpo, nos fazendo gritar, engasgar, morrer.

As mãos falam através de sinais mudos. É a mão que encontrando outras mãos, expressa sua amizade e confiança através da força e firmeza que imprime neste encontro. Os amantes pedem a mão desejada em casamento. As mãos benevolentes estão sempre abertas para auxiliar a quem precisa, mas existem mãos rancorosas que se fecham pelo ódio e cólera que a tantos intimidam.

A mão que acolhe com bondade é a mesma que empurra com brutalidade. A mão que puxa para aproximar é a mesma que solta sem demonstrar se importar. São as mãos que nos socorrem nos momentos em que a escuridão nos envolve e, sem qualquer aviso, cega o nosso olhar. Mãos que nos fazem ver, muitas vezes, aquilo que não queremos enxergar.

A mesma mão que aponta acusando é aquela que se une com outras em prece pedindo perdão. Uma mão caridosa lava a outra, lhe ajuda, protege e ampara, fazendo o que estiver ao seu alcance na hora de prestar auxilio. Mas a mão impregnada de egoísmo também lava a própria culpa de si mesma, quando quer se omitir de ajudar quem precisa.

A mão suja representa o trabalho, mas a sujeira nas mãos também é o símbolo da corrupção. As mãos vazias de riquezas, sem nada, representam a pobreza, bem como as frágeis mãos ainda tão pequenas, desamparadas e pedintes. Cruel realidade das crianças mendicantes nas sinaleiras.

São as mãos que batem continência em sinal de respeito e disciplina militar em nome de uma pátria nem sempre amada. Mas também foram elas que ficaram erguidas, o braço direito estendido para frente, simbolizando a loucura nazista que marcou uma era malograda.

São mãos amigas que amparam quando as palavras falham, nos envolvendo na comunhão de um abraço. É uma mão cheia de ternura que dá adeus quando alguém parte, e enxuga a vertente de lágrimas que escorre pela face de nosso semblante sofrido.

São as mãos que batem na porta para anunciar a chegada. Mãos cheias de energia aplaudem aqueles que admiram, e se juntam ampliando o som das vozes quando querem vaiar. As mãos unidas podem até derrubar governos...

São as mãos que acariciam vários instrumentos de corda fazendo-os tocar, espalhando os sons dos anjos pelo ar. A mão que nos alimenta é também aquela que nos auxilia a aprender a contar, brincar, trabalhar, amar.

São as mãos que abrem a carta com as notícias tão desesperadamente esperadas. E através de um simples toque de seus dedos, um clique é dado sobre o mouse, abrindo o e-mail desejado.

É a mão que aperta o gatilho da arma. É a mão que tapa a boca da vítima impedindo-a de gritar. São mãos frias que puxam a alavanca do cadafalso cumprindo a ordem de matar.

A mesma mão que escreve as verdades também rasga os direitos em sinal de intolerância, jogando pedras em corpos vivos e livros ao fogo, que ardem em nome do preconceito.

São elas que fecham nossas têmporas quando enfim rumamos para imensidão.

Foi por causa dessas mãos, dessas tantas mãos: fortes e frágeis, grandes e pequenas, jovens e velhas, negras, brancas, orientais, universais, que me pus pacientemente a dedilhar o teclado, dando vida a este pretenso texto com ares de poesia. Enfim, as mãos unidas pelo amor são a essência de nossa humanidade. Agora peço que você releia todo texto novamente, trocando as expressões que representam as “mãos” por “pessoas”... Feliz 2012.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Morde com raiva ou assopra com carinho



Hoje este pretenso aprendiz de escritor resolveu escrever algo mais direcionado aos aspirantes a escritores, que muitas vezes me procuram questionando se vale à pena mergulhar no mundo das letras. Muitos acham que escrever é fácil e que escritores, assim como técnicos de futebol, decepcionam simplesmente por não saberem ler os pensamentos, gostos, preferências ou estados de humor de seus leitores ou torcedores.

Escrever realmente não é difícil, normalmente se aprende o básico já nas series iniciais da escola. Mas para querer ser escritor a pessoa antes de tudo tem que estar pronta a ser uma vidraça humana, suportando todas as pedras atiradas contra suas obras, a cada vez que ousa publicar um novo texto, sem se fragmentar com isso. Uns escrevem porque querem mudar o mundo, outros para se autoafirmar, outros para deixar sua marca, ou porque acham que é mais fácil escrever do que plantar uma árvore ou ter um filho. E outros ainda, como é o meu caso, escrevem por prazer (não para agradar ou irritar os outros como muitos pensam), um prazer inexplicável, que nos faz sentar na frente de um computador e deixar fluir o que vier na mente, deixando para os sites, jornais, blogs, revistas, etc, a decisão de publicar aquele texto ou não.

Mas voltando aos aspirantes das letras, vou deixar aqui algumas das mensagens que freqüentemente recebo, com elogios e críticas. Transcrevi as mensagens apenas separando-as entre mensagens sobre textos publicados e opiniões sobre meu livro. Ao lerem estas mensagens, imaginem-se sendo vocês que as receberam, e reflitam se vale à pena entrar para este mundo... Ou não.

ALGUMAS MENSAGENS RECEBIDAS SOBRE TEXTOS PUBLICADOS

“Por um momento pensei estar lendo Luis Fernando Veríssimo...” (Lepore)

“Tem um chato que escreve (escrevinhador) qq coisa, sobre qq assunto, e tenta dar uma roupagem aos textos. Textos monótonos, idéias pedestres, monopolizando o espaço.” (Lepore)

“Sou leitor fidedigno e gostaria de lhe saudar pela crescente qualidade de seus escritos. Ressalto nesta mensagem a profundidade e a simplicidade de sua mensagem. Nunca li algo parecido, no foco e no desenvolvimento de seu texto. Gostaria de agradecer por ter a atitude de escrever a vida em seus artigos, brindando seus leitores com risadas, discussão de temas e reflexão acima de tudo.” (William).

“Acho vc um idiota, que não tem o que fazer e fica mandando essas palhaçadas, a coisa já chegou de outra maneira na net, acho que não se deve brincar com essas coisas, não tem um pingo de graça”. (Pessoa identificada como Conceição, sobre o texto “E a gente ainda leva a sério”, entendendo que eu estava criando as tais correntes malditas que povoam a internet e não apenas parodiando-as, justamente para tentar alertar as pessoas sobre elas).

ALGUMAS MENSAGENS RECEBIDAS SOBRE O LIVRO: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”

“Houve um momento em que eu quase ri (...). Levando-se em consideração que me fizeram acreditar que era um livro de humor, foi um efeito completamente decepcionante. Sem falar na abordagem previsível e repetitiva dos assuntos escolhidos. Há tantos lugares-comuns no livro que quase achei que fosse minha casa (droga, acho que o humor ruim de Antônio me contagiou momentaneamente). O autor deve ser um tio e/ou pai e/ou ou avô metido a engraçado, metido a atualizado, metido a inteligente... Mas está apenas um nível acima da mediocridade em cada um desses aspectos. Talvez até divertido pessoalmente, mas entediante num livro. Não sei se tem potencial para vir a ser um bom escritor um dia. Afinal, falta a ele o ingrediente principal para isso: auto-crítica. Se ele achou que este livro estava bom o bastante para ser publicado e divulgado ferrenhamente aqui no Skoob, não sei se tem capacidade de "cair na real" e perceber que as coisas que ele aparentemente tem tanta vontade de dizer ao mundo (algo que gostei nele... o prazer em escrever... mesmo as bobagens que escreve) não têm mais graça, em nenhum sentido, e sabendo disso começar a mudar, a pensar mais criativamente. Talvez isto envolva mudanças na própria maneira de ele ver o mundo... Algo difícil e trabalhoso de se conseguir. Mais uma razão para eu crer que desse mato não deve sair coelho tão cedo.” (Victor).

 “Li seu livro, estou sem palavras para comentar. rs Amei, de verdade! Suas críticas são duras mas ao mesmo tempo tem uma leveza de humor incrível. Ah uns dias atrás li o livro de um autor mtoo famoso e conhecido, tanto me indicaram que acabei lendo, mas foi uma leitura com crônicas cansativa, a leitura se tornou forçada. Com seu livro aconteceu completamente o contrário, tudo fluía, e cada página que lia, queria apreciar mais e mais. Você está de parabéns! Vou divulgar seu trabalho! ;) Um abraço!” (Mary)

Enfim, amando ou odiando aquilo que escrevo a ponto de continuarem lendo e relendo meus singelos textos apenas para muitas vezes criticá-los ferozmente depois, de minha parte só o que posso dizer é que vou continuar escrevendo enquanto tiver prazer em fazer isso, para sorte ou azar de todos aqueles que esbarrarem com minhas pérolas textuais. E a vida, esta caixinha de surpresas onde vivemos, a vida continua...

sábado, 15 de outubro de 2011

Comprador com ênfase na DOR


Ninguém está livre de embaraços, justamente porque os embaraços ocorrem em momentos inesperados e nos pegam desprevenidos, deixando qualquer um com as calças na mão, mesmo que esteja de bermuda, saia ou pelado. Aconteceu algo assim comigo há algum tempo atrás (anos, meses ou dias, o que importa?), quando meu filho me perguntou se a palavra “comprador” era oxítona, paroxítona ou proparoxítona, ou seja, nada muito grave, a não ser pelo fato de que mesmo tentando acordar os neurônios que ainda achava que tinha mantido da época deste tipo de aprendizagem, não encontrei nenhum.

Forcei o cérebro tentando buscar algum tipo de lembrança daquele período, mas tudo que me vinha na cabeça eram os horários dos intervalos na cantina da escola e as festas nos finais de semana. Comecei a ficar preocupado, martelando de forma pausada a palavra em minha mente: “com-pra-dor”, “COM-PRA-DOR”.

Lembrei de algo sobre uma tal de sílaba tônica, que era forte o suficiente para comandar o resto da tropa textual das palavras, e que provavelmente tinha uma certa responsabilidade no hora de definir quem é quem entre aquele trio de irmãs “xitonas”.

No caso da palavra comprador, em um primeiro momento a dor parecia ser a silaba mais forte, algo totalmente plausível, já que a dor é realmente algo forte e capaz de subjugar qualquer um, seja ele um ser vivo ou sílaba.

A dor prevalecendo sobre a compra, a dor de comprar, ou melhor, a dor do comprador em se tornar vítima atroz de seu objeto de desejo. Veio a minha mente a frase: “cuidado com o que desejas”, por que juntar o ato de comprar com o sufixo de dor? (e neste caso a dor seria realmente um sufixo?). Por que somos seres tão frágeis ao ponto de sofrermos com nossos próprios desejos? E o que é pior, por que a malditas regras de português pareciam ter me abandonando?

Senti-me vencido, tanto pelo sentimento de ignorância de alguém que perdeu algo que sofreu para aprender e que possivelmente não aprendeu, quanto pelo fato de não ter a capacidade de manter em minha memória o fruto daquele aprendizado. Toda esta reflexão (a própria palavra “reflexão” já formava dúvidas em minha cabeça sobre sua formação ortográfica) acabou me deixando ainda mais confuso, confessei ao meu filho que não sabia a resposta correta para aquela pergunta, mas que iria procurar sobre o assunto, e procurei.

Recorri ao meu professor virtual “Google”, de onde fiquei sabendo o que já suspeitava, comprador é uma oxítona, pois neste caso a vogal tônica está realmente na “dor”. Dúvida respondida, mas a insegurança permanece, até quando será possível guardar esta descoberta em minha mente? Por garantia anotei tudo em uma folha de papel e transformei neste texto, bem mais difícil de perder do que minhas recordações.

Acho que logo estas regras voltarão a se apagar de minha memória, dando lugar aos escândalos políticos do momento, aos novos hits musicais das rádios, as novas vitórias e derrotas da vida, e a novas perguntas sobre temas diversos, cujas respostas por algum motivo teimam em não querer ficar alojadas em minhas lembranças.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

ASSALTO (IN) CÔMODO



(Autor: Antonio Brás Constante)

-          É um assalto!

-          Como?

-          Eu disse que é um assalto!

-          Mas, nem revolver você tem...

-          É que sou contra a violência. O desemprego me obrigou a partir para o mundo do crime, mas procuro fazer isso de forma pacífica.

-          Olha. Não me leva a mal, mas o que faz você pensar que eu vou aceitar ser assaltado por alguém que não usa armas e não gosta de violência?

-          Justamente para evitar mais violência desnecessária. Se você não colaborar comigo e chamar a polícia, vou acabar preso. A prisão vai servir de escola para me transformar em uma pessoa pior. Quando sair de lá provavelmente vou passar a ser violento e agressivo em meus assaltos. Você não quer isso quer?

-          Sei...

-          Sem falar que se eu fosse praticante da violência, ao invés de estarmos dialogando calmamente como agora, você estaria com uma arma apontada para sua cabeça, sendo agredido, humilhado, quem sabe até mesmo morto. Se tivesse problemas cardíacos poderia ter um ataque ou algo parecido...

-          E você acha que alguém em juízo perfeito vai dar dinheiro para um ladrão somente baseado nesses argumentos?

-          Claro. Pense bem. Se todos os assaltantes agissem assim, não haveria tantas mortes, violência, famílias que perdem seus maridos, filhos, irmãos entre outrosem assaltos. As verbas contra a violência poderiam ser destinadas para outros fins como a geração de empregos, diminuindo assim o índice de assaltos até finalmente acabar com eles de vez.

-          Ok. Toma este dinheiro aqui...

-          Uau! Tudo isto? Como você é generoso...

-          Generoso nada. Pega este dinheiro e vai comprar uma arma. Sou um homem da lei. Se essa moda que você está pregando der certo vou acabar sem emprego. Por isso escuta bem, se eu te pegar tentando dar uma de assaltante bonzinho novamente, te prendo e cubro de porrada. Agora some daqui.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

REINALDÃO NA EXPOINTER


REINALDÃO NA EXPOINTER - Proibido para menores de 18 milhões de anos
(Autor: Antonio Brás Constante)

Expointer, um dos maiores eventos agropecuários da America Latina. Milhares de pessoas circulando em seus ambientes todos os dias (e noites), entre elas, uma se destaca: Reinaldão, um dos maiores boçais que já existiu na face da Terra. O que ele está fazendo ali, aquela noite? A história acontece mais ou menos assim:

Reinaldão chega e debruça-se sobre a cerca de contenção das ovelhas, ficando ao lado daquela beldade loira de olhos cor de mel. Ele fala e sua voz só não sai mais melosa na primeira frase, porque ele arrota um odor de conserva de cebolinhas no meio dela e cospe no fim.

- Mas que tetéia. A fartura corre solta por este corpinho que me faz latejar igual a um dedo martelado.

-(A loira vira-se para Reinaldão) Se a cantada foi para mim, saiba que não gostei, ouviu!

-Calma potranca, eu estava falando com as ovelhas. Mas já que tu me deu papo, quem sabe não me dá o resto junto.

- Você está babando? O que foi? Nunca viu uma mulher gostosa antes?

-Ver é o que menos gosto de fazer com mulher, entende? Meu negócio é exercitar o corporal. E como o local é propício, vou te mostrar como se insemina um animal de modo natural.

Reinaldão solta um sorriso safado, juntamente com a braguilha de suas calças. Pisca o olho por detrás de seus óculos escuro em formato de pára-brisa de opala, e começa a despir a moça com os olhos. Fica imaginando ela coberta de lã. A imagem parece confusa. Mas é porque ele estava há poucos segundos atrás despindo as ovelhas. A cena final acaba aparecendo com a moça, as ovelhas, o tratador das ovelhas e um banquinho coberto com um pelego. Todos completamente nus. Reinaldão é assim, não poupa ninguém.

A moça se afasta. Reinaldão se aproxima. A moça grita. As ovelhas berram. Ele se excita. Por sorte, a loira sai correndo e consegue pegar distância. Afinal, enquanto ela estava se pelando de medo, ele estava apenas se pelando, o que dificultava sua corrida.

Imediatamente começa a correr o boato de que há um tarado correndo pelado pela Expointer. O clima é de suspense. A loira procurando a saída. Reinaldão procurando a loira. E todo resto procurando por ele.

Na confusão, alguém acaba esbarrando nos fios de luz espalhados pelo local, causando curto-circuito e conseqüentemente um blecaute. Tudo fica escuro.

A partir daí, a polícia começa a se guiar pelos gritos e gemidos de animais e pessoas que, sem querer, encontram com Reinaldão e acabam “cruzando” com ele.

Como Reinaldão é favorável pela lei do menor esforço, acaba esquecendo a loira e se interessando por uma vaca premiada. Com ele é assim, traça o que vier, mas prefere as que tenham algum título em concursos de beleza, pode ser de rainha da primavera ou a pobre vaquinha com a faixa de primeiro lugar.

Quando pula em cima da mimosa, os tratadores lhe acertam dardos tranqüilizantes. Ele fica tonto (mais do que já é) e cai, porém, com seu troféu erguido em sinal de resistência.

A paz retorna ao local. Reinaldão é recolhido pelos policiais para alegria de uns poucos que não encontraram com ele e tristeza da bicharada que já estava simpatizando com o “animal”.P.S: Veja a divertida charge do “Reinaldão na Expointer” criada pelo Cartunista Zé Gadis no meu blog: abrasc.blogspot.com, ou pelo link: http://abrasc.blogspot.com/2011/09/charge-do-texto-reinaldao-na-expointer.html

sábado, 20 de agosto de 2011

O ventre no fundo do poço



No fundo do poço a umidade verte das lágrimas salgadas, que escorrem de uma face amargurada, desamparada, encoberta pela escuridão.

Imensas paredes fazem ciranda, dançando imóveis ao redor de um vulto esquecido nas entranhas da solidão;

Sem luz, sem amor, sem rumos a seguir, sem asas para voar. Somente um buraco profundo onde o vazio da própria existência teima em se alojar.

Fragmentos de sentimentos, mergulhados em breus de desilusão. Forjados nas sombras do passado. Restos de lembranças à deriva em oceanos de densas tristezas sofridas.

Desce como a noite o véu frio da ruína, caindo sobre o singelo corpo ferido, lançando-o em desatino ao encontro de seu destino.

Nos braços do tempo, frágil carcaça é acolhida. Transformando dores em múltiplas cores. Morte em vida, escrevendo novas histórias por estradas desconhecidas.

O poço vira ventre. O vulto semente. O fim reinicia. A vida se faz presente. A veste amargurada é abandonada. Dando lugar a nova pele, e a esperança enfim renasce em um sorriso criança de felicidade.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Baratas e baratos (do chinelo a chinelada)

Apesar de toda discórdia entre os povos, que muitas vezes utilizam utensílios como a pólvora para fazer valer seus pontos de vista, nem que isto cegue a vista dos outros. Apesar de toda diversidade de opiniões, que em tantas ocasiões são vociferadas em cuspe, falando inclusive de paz, em suas palavras carregadas com tons de guerra. Apesar de toda gama de idéias que destroem ideais, e que geralmente retumbam na impossibilidade diálogos, elevando a zero as chances de consenso sobre qualquer assunto. Em uma coisa todos concordam, as baratas não são e nunca foram o maior barato do mundo.

Mas querem saber de uma coisa? Posso lhes afirmar que todas aquelas baratinhas asquerosas e covardemente corajosas (pois parecem tirar vantagem do asco que sentimos delas), não estão nem aí para nossos consensos ou pensamentos sobre elas. As baratas estão antenadas em outra coisa muito mais importante: a própria sobrevivência.

Com suas asinhas de anjo (que não parecem asas de anjo, mas servem para voar do mesmo modo) e seu jeitinho de demônios das profundezas gargulescas de algum inamistoso inferno, as baratas se espalharam, invadiram e dominaram muitas áreas do mundo (incluindo banheiros, quartos e cozinhas também), sem a necessidade de utilizar qualquer bomba para alcançar este intento e sem nem mesmo saber o que significa a palavra “intento”. Pois elas apenas seguem uma das premissas básicas, sugeridas ao próprio homem, ou seja: “crescei e mutiplicai-vos”.

As baratas sobrevivem até aos explosivos holocaustos nucleares que rolaram por aí, mandando muita coisa pelos ares. E ainda temos a inocente pretensão de tentar exterminá-las na base da chinelada. E continuamos produzindo cada vez mais chinelos para nos calçarmos e subconscientemente nos armarmos contra esses batalhões de baratas. E nada melhor do que uma boa feira de ofertas para comprarmos chinelos em promoção, sem gastarmos um montão.

Mas algumas pessoas acham que lugares onde os produtos são baratos estão impregnados de baratas. Outros já alegam que o barato sai caro, mas continuam adquirindo CDs piratas, peças roubadas para deixar seu carrinho maneiro, e se bobear, até peças falsificadas para usarem em seus banheiros.

De um modo geral as pessoas gostam do barato, pois economizam seus trocados. Outras gostam do barato advindo da bebida, das drogas, da aventura (bons e maus baratos). E no quesito aventura, um grande aliado é a resistência para curtir estas fortes emoções. Talvez aí resida um dos baratos da barata, conseguir suportar muito mais do que nós, seres humanos. Ela (a repugnante barata) consegue ficar uma hora ou até mais copulando (no rala-e-rola com roça-roça, no chamegão do balakubako, no esfrega-esfrega fazendo um canguru perneta com outra igualmente repugnante barata, entendeu ou quer que eu desenhe?), enquanto o ser humano de modo geral não chega nem perto da sombra disso.

A barata agüenta ficar o dobro do tempo de um ser humano sem água, e consegue ficar mais de 30 minutos submersa (o campeão de apnéia de 2008 conseguiu ficar pouco mais de 14 minutos embaixo d’água). As baratas conseguem viver até um mês sem a cabeça, mas se levarmos em conta que muitos humanos nunca usam a cabeça, isto até que não é tão incrível assim.

Por outro lado, em alguns casos o ser humano consegue se sobressair aos feitos das baratas, por exemplo, a barata consegue ficar em média até 30 dias sem comer, mas os brasileiros em sua grande maioria conseguem ficar uma vida inteira sobrevivendo apenas com um salário mínimo (às vezes nem isso), algo que nos dá um certo respeito (muita dó, e até uma boa dose de pena) por parte das baratas que conhecem a realidade brasileira.

Enfim (gosto de terminar meus textos com esta expressão), o maior barato da barata parece ser demonstrar aos humanos que elas vieram para ficar, afinal a barata é uma guerreira, sobreviveu desde tempos imemoriais, sem receber qualquer memorial por isso, passando por calamidades pelas quais poucos seres vivos resistiriam. Elas chegaram aqui muito antes de nós, e agora sofrem chineladas, jatos de spray, e armadilhas de veneno, mas provavelmente acabarão vivendo por aqui muito tempo depois que nossa raça já tiver sido extinta, ou talvez não, já que o ser humano tem uma mania chata de querer se destruir aniquilando e arrastando todo o resto do planeta junto.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

HUMOR - SOL e FRIO (tomou Doril e NÃO sumiu)

...A netinha então perguntou para sua vovozinha, muito velhinha e bondosa: “Vovó, quando a senhora nasceu o Sol já existia?”, e a vovozinha lhe respondeu cheia de ternura: “sim, minha netinha queridinha, por quê?”, a menininha, na inocência de sua tenra infância, arregalou os seus olhinhos brilhantes e disse: “NOOOOSSA!! COMO O SOL É VELHO!”. Alguns dizem que a anedota termina por aí, já outros juram que a tal avó arrancou a própria dentadura da boca e arremessou na cabeça da netinha malcriada. Mas essa introdução serve apenas para falarmos do maior rei anão que conhecemos: O nosso Sol (para quem não sabe, o Sol é uma estrela anã que fugiu do circo do infinito para brilhar em nosso sistema solar).

O Sol parece uma bola gorda e gigantesca (provavelmente deve até ter sofrido algum tipo de bulling após os acontecimentos do Big Bang, moldando assim o seu atual jeitão esquentadinho). Ele fica no espaço ocupando espaço de forma aparentemente sedentária, mas queima calorias como ninguém, e é graças as suas terríveis crises de gases que continuamos vivos aqui na Terra.

Algumas pessoas tiveram que queimar na fogueira da ignorância (porém, montada com madeira de verdade), para que o Sol ganhasse o destaque que merece como centro de nosso sistema solar, e apesar de não ser egocêntrico (esses sentimentos pequenos e desprezíveis pertencem a muitas das criaturas minúsculas que se acham grande coisa por aqui na nossa terrinha) ele é a principal peça do sistema heliocêntrico (para quem não sabe, heliocêntrico é como o seu Hélio chama o seu sistema de vendas de pipoca com gordura hidrogenada, que ele estoura e comercializa através de seu carrinho de pipoqueiro, localizado no centro da praça universal, em uma das periferias do bairro Via Láctea).

O Sol tem uma característica explosiva, e talvez por isso poucos amigos (apenas nove, sendo que um deles, Plutão, foi rebaixado para segunda divisão há alguns anos atrás). Eles ficam perambulando em volta do Sol como se estivessem brincando de ciranda (só que em uma espécie de fila indiana formada por bêbados) ou como moscas em volta de uma lâmpada acesa qualquer. Alguns desses planetas são acompanhados por seus filhotes, também conhecidos como satélites. É o caso da lua, que é filha da Terra (e a Terra, como muitos sabem, dispõe de muitos indivíduos que são verdadeiros filhos da mãe e outros que vivem no mundo da lua).

É através dos raios do Sol que nóis pega um bronzeado (estou me adequando as novas tendências e aderindo a linguagem popular, lembrando sempre que a principal expressão popular aqui no Brasil é o famoso “nóis fumo”, ou seja, “nóis fumo robadu”, “nóis fumo enganadu”, “nóis fumo sacaneadu”, mas no fundo nóis é tudo CB “Sangue Bom”). O Sol tem seu brilho próprio de verdadeira estrela em todas as suas dimensões, e quando nosso planeta lhe dá as costas (literalmente falando) é porque está na hora de irmos dormir um pouco, muitas vezes olhando para o céu e vendo a parentada celestial e brilhante de nosso astro-rei, pontilhada na negritude do espaço.

Mas é no inverno que sentimos mais falta do calor desumano do Sol, principalmente aqui no Sul, que não é o Pólo Sul, mas também é frio pra chuchu (não sei explicar porque o chuchu serve para exemplificar algo tão frio). Neste período do ano o cobertor frio do inverno cobre os habitantes bem ao sul do Equador em uma época em que Papai Noel ainda está hibernando no Pólo Norte ou quem sabe escravizando duendes e obrigando-os a fazerem brinquedos para as crianças do mundo, mas somente para aquelas que foram boazinhas o ano inteiro (provavelmente apenas uma meia dúzia).

Ao ser percebido através de uma visão cósmica, o clima frio que muitos lugares enfrentam é insignificante perante a força e majestade do esplendoroso Sol. Mas infelizmente esta insignificância nos dá calafrios quando notamos que ele, o clima frio, não está nem aí para isso tudo que acabei de escrever e nos faz tremer com suas baixas temperaturas, tão agressivas quanto qualquer golpe baixo em campeonatos de luta livre.

O Sol na imensidão fria do universo servindo de farol para nossa existência, intrinsecamente ligado a nossa tênue essência, lutando bravamente contra o frio que tantas vezes cerceia nossa temporária vivencia. Frio este também aplacado com o mate quente e amargo, servido em minha amada querência.

Buenas tchê! Já falei do Sol, já falei do frio, mas e o Doril? No caso do Doril, você pega ele, tira da embalagem, e depois você... Você... Você... Você, você, você, você, você, você (vamos lá gente, todo mundo fazendo a dança “Você, Você” do pânico na TV). Eu até ia terminar este texto falando alguma coisa sobre o Doril, mas agora a ideia sumiu...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Drogados virtuais, seus vícios reais e um meio de cura

Tudo começou de forma inocente, com um simples cadastro de e-mail. “Não tem perigo, todo mundo usa” era o que me diziam. Dos e-mails comuns do tipo: “Olá, como vai, tudo bem?”, aos poucos fui indo cada vez mais fundo, e quase sem notar já estava enviando e recebendo apresentações de Power Point com ursinhos fofinhos, florzinhas coloridas e mensagens açucaradas de amizade, pedindo que elas fossem repassadas ao maior número possível de pessoas.

O vício foi crescendo. Passei a olhar a caixa de e-mails a toda hora, e quando não encontrava nenhuma mensagem dos conhecidos, passava a abrir SPAMS para saciar a ânsia por novidades, muitas vezes respondendo ao remetente e perguntando se ele tinha Orkut e se gostaria de me adicionar como amigo lá. Sim, eu já estava usando Orkut nessa época, não lembro bem como comecei a utilizá-lo, mas o fato é que já tinha perfil e perdia parte do meu tempo cultivando fazendas felizes e outras bobagens sem noção, e enquanto alimentava minhas vaquinhas e regava minhas plantinhas virtuais, a samambaia lá de casa ia secando por falta de água e meu cachorro morria de fome.

No Orkut tudo foi se agravando. Eu achava o máximo ficar mandando mensagens vazias de conteúdo e cheias de anjinhos bonitinhos para todos os meus amigos (muitos desses “conhecidos” eu nem conhecia, e depois acabei entendendo que eles eram tão viciados quanto eu). Comecei a participar de tudo quanto era comunidade que criavam e me convidavam, como por exemplo: “Lost – Humor”, “salvem as borboletas do Afeganistão”, “Eu odeio lenços de papel perfumado” e até “meu tio usava calças boca de sino”, entre outras.

Depois fui me envolvendo com drogas mais pesadas, pois tragar e-mails e bebericar Orkuts já não me bastavam. Passei a ser usuário do MSN, enquanto alimentava cada vez mais minha compulsão por jogos infantis e bobos do Orkut e do próprio MSN. Desse ponto em diante foi rápida a minha imersão em outros produtos ainda mais viciantes. Comecei a consumir FACEBOOK e SKYPE de forma indiscriminada, e me fissurei no YOUTUBE, principalmente após assistir a um vídeo viral de humor intitulado: “3D – hoje é seu aniversário”, que causava fortes crises de riso em quem assistisse.

Cheguei a ouvir falar de usuários que se perderam em overdoses maciças de SEXLOGs e PERFIS Reais, mergulhando no mundo erótico dos sites e comunidades pornôs disponíveis na rede, penetrando na devassidão das festas ali promovidas, repletas de belas ninfomaníacas e regadas a ménage, swing e bacanais entre outras orgias. Mas o pior é que nunca me convidaram para nenhuma delas (NOTA IMPORTANTE DO AUTOR: gostaria de deixar bem claro, principalmente a minha querida esposa, que provavelmente vai acabar lendo este singelo texto, que esta é uma obra de ficção, e que em momento algum eu disse que aceitaria os tais convites – a propósito, depois que terminar de escrever este texto tenho que consultar novamente minha caixa de mensagens para ver se já não chegou algum - ou que eu iria a qualquer uma dessas festas, ok? Agora, por favor, minha querida, guarde novamente o rolo de macarrão na gaveta antes que alguém [EU] se machuque).

Eu já era um drogado virtual e não sabia. Abrindo e compartilhando arquivos contaminados com todos os tipos de vírus que se possa imaginar, muitas vezes através de correntes ridículas que recebia e repassava aos meus contatos, sem nem sequer questionar se aquilo era verdade.

Foi então que cheguei ao fundo do poço, depois de experimentar a pedra maldita da banalização de mensagens, também conhecida como TWITTER. Passei a consumi-la sem controle, twitando até cinqüenta vezes ou mais em um único dia. Eu ficava até de madrugada conectado como um zumbi. Meus olhos já apresentavam olheiras profundas, a boca seca pedindo água sem que o cérebro obedecesse, pois não queria abandonar o mundo on-line. Também não me alimentava direito, e com isso evitava as idas ao banheiro.

Enquanto eu permanecia conectado como um escravo ao universo virtual, meu rendimento no mundo real e profissional estava cada vez mais caindo e decaindo, como aconteciam com as antigas conexões discadas. Isolei-me de tudo a tal ponto que até achava estranho encarar outras pessoas, sem ser pela webcam.

Graças aos meus familiares fui forçado a morar algum tempo (um bom tempo) no interior (em meio ao campo), sem qualquer contato com a internet, ou celulares, ou quaisquer outros dispositivos eletrônicos. A crise de abstinência foi tão forte que cheguei a desenhar um teclado no chão em frente a uma janela espelhada, tentando desesperadamente enviar uma mensagem de socorro para algum blog. Tudo sem sucesso. Mas o que me curou mesmo foram os medicamentos que tomei. Grandes e grandiosas doses de bons e saudáveis livros, que me tiraram da fissura pelas drogas virtuais.

Aos poucos fui me curando, e hoje estou de volta a sociedade. Tento ser forte, e não cair novamente no vício virtual, mas é difícil, muito difícil, pois para qualquer lado que se olhe ele está ali, tão próximo, tão fascinante que é quase impossível resistir. Porém, sempre que a tentação chega, pego um bom livro e me fortaleço em meio as suas páginas, sendo salvo pelo poder indelével e miraculoso da leitura.

NOVA NOTA DO AUTOR: Produzi um filme no Youtube (escrito, dirigido e encenado por este eterno aprendiz de escritor), se quiser assistir ao filme e quem sabe dar boas risadas, basta acessar o Youtube e procurar por: “3D – Hoje é seu aniversário” (o filme foi feito em padrão 3D). Quem quiser também pode me pedir uma cópia em PDF do meu livro: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”, o livro impresso está disponível pela editora AGE (www.editoraage.com.br), ou se quiser fazer parte de minha lista de leitores, para receber semanalmente meus textos, basta enviar um e-mail para: abrasc@terra.com.br.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Reinaldão (O Cafajeste)

PROIBIDO PARA MENORES DE 18 MILHÕES DE ANOS

NOTA DO AUTOR: Antes de enveredar pelos caminhos das crônicas, comecei minha jornada de escritor fazendo contos e criando personagens como as Tias beatas de Tucuruí, O seu Artêmio (eterno concorrente a Deus) entre outros. Um deles em especial Foi o Reinaldão, inspirado em personagens de outros autores como o Bibelô do cartunista Angeli e o hilário MIG (como o jato Russo) do colega de Banco Miguel da Costa Franco. Como diz o título, Reinaldão é proibido para menores de 18 milhões de anos, por isso se você tiver estômago fraco, ou se não curtir personagens com estilo escroto, pare agora mesmo de ler o texto. Aos que forem continuar, tenham uma boa leitura, e se não gostarem... Bem... Também amo vocês.

REINALDÃO (O Cafajeste).
(AUTOR: Antonio Brás Constante)

Sapato de bico fino, camisa listrada e aberta, deixando a mostra seu peito cabeludo, corrente no pescoço com um medalhão prateado pendurado nela, óculos escuros estilo pára-brisa de Opala, gel no cabelo, calça jeans apertada, salientando as “jóias da coroa”, dente de ouro no sorriso safado, olhos que comiam qualquer mulher, penetrantes, às vezes remelentos, palito de dentes na boca, cara de cafajeste, jeito de cafajeste, fala de cafajeste e carteirinha do clube dos cafajestes. Assim era Reinaldão.

-         Sou melhor que o Ricardão. Sou o Rei, o Rei “Naldão”. (Ao menos ele achava isto).

Chegou em uma agência de empregos. “Nem só de batom da boca de piranhas vive o homem”, pensava. Precisava também de dinheiro para comer. Resolveu trabalhar. De cara botou os olhos na atendente, dona Clotilde, uma senhora de uns 60 anos, feia como o diabo, mas como dizia Reinaldão, “bem servida nas partes”.

-         Em que posso lhe ajudar?

-         Tu lê pensamentos é? – ele morde os lábios quase babando – nossa, quanta ajuda você pode me DAR...

-         Está procurando emprego? O que sabe fazer?

-         Sexo. Posso começar agora. Quer uma demonstração, ou serviço completo?

-         Como disse?

-         Como tudo, o disse, o não disse e o que tu vai ainda dizer.

-         Isto é alguma gozação?

-         Calma apressada, a gozação é no final, mas tem que ser boazinha.

-         O senhor é louco?

-         Sou... Por sexo... Afim?

-         Olha aqui, não sou destas, quer que eu chame os seguranças?

-            Sei, tu é daquelas, nem bem te cantei e já quer chamar mais macho. Gostei, topo o ménage, o swing, o que tu quiser. Reinaldão se emociona e arrota, exalando um hálito de hortelã, cerveja e torresminho.

-         Porco!

-         Olha, com porco eu nunca fiz, mas se estiver afim, encaro na boa.

-         O senhor é um depravado! Um mentecapto! Um celerado!

-         E tu é gostosa, véia, feia, e pelancuda. Porém, ainda dá um caldo. Se eu não fosse carente te esnobava.

A atendente chama três seguranças, que arrastam Reinaldão para uma salinha, ouve-se gritos de dor, gemidos, sons de briga, mobília sendo arrastada, objetos caindo. Tudo isto dura uns quinze minutos e então o silêncio.

A porta se abre, aparece Reinaldão pelado, com o instrumento em posição de sentido, apontando para dona Clotilde. Os três seguranças encontram-se caídos de bruços sobre os móveis, com as calças arriadas até as canelas.

Reinaldão pisca o olho, chama com o dedinho e faz um beicinho feio.

Dona Clotilde desmaia.







NOVA NOTA DO AUTOR: Produzi um filme no Youtube (escrito, dirigido e encenado por este eterno aprendiz de escritor), se quiser assistir ao filme e quem sabe dar boas risadas, basta acessar o Youtube e procurar por: “3D – Hoje é seu aniversário” (o filme foi feito em padrão 3D). Quem quiser também pode me pedir uma cópia em PDF do meu livro: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”, o livro impresso está disponível pela editora AGE (www.editoraage.com.br), ou se quiser fazer parte de minha lista de leitores, para receber semanalmente meus textos, basta enviar um e-mail para: abrasc@terra.com.br.



ULTIMA DICA: Divulgue este texto aos seus amigos (vale tudo, o blog da titia, o Orkut do cunhado, o MSN do vizinho, o importante é espalhar cada texto como sementes ao vento). Mas, caso não goste, tenha o prazer de divulgá-lo aos seus inimigos (entenda-se como inimigo, todo e qualquer desafeto ou chato que por ventura faça parte de um pedaço de sua vida ou tente fazer sua vida em pedaços).

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Na dúvida, dê bom dia ao caos

(Autor: Antonio Brás Constante)

Alguns adeptos da teoria do Caos dizem que se uma borboleta bater suas belas asas em algum lugar do oriente, ela poderia desencadear uma onda de fatos e fatores que destruiriam alguma coisa importante no ocidente, talvez sua casa, talvez a minha, ou talvez a casa de outra borboleta que estaria de férias na praia, também batendo suas asas só de sacanagem (a praia é um lugar onde até as borboletas ficam propensas a sacanagens) para destruir alguma coisa no outro lado do mundo.

Não é muito difícil de acreditar que insignificantes acontecimentos acabem gerando novos acontecimentos que nos façam parecer insignificantes. Para ocorrer um deslizamento de terra, por exemplo, tudo começa com uma única gotinha de água, que cai inofensiva em alguma encosta de morro. Mas quando percebemos que outras milhares de gotinhas parecem ter a mesma idéia de cair naquela mesma encosta o resultado é devastador.

Percebo isso também no trânsito (no meu caso na BR 116 por onde passo quase todos os dias), me parece que um simples bater de asas de uma borboleta, morcego, mosquito ou pernilongo, podem tirar a atenção do motorista que está a doze quilômetros de distância na minha frente, fazendo-o diminuir a velocidade de seu veículo por uma fração de segundo, está fração vai se estendendo para os carros atrás dele e o resultado é um nada belo engarrafamento matinal.

Com base nesta afirmação de que uma ação gera uma cadeia de reações, podemos imaginar que um simples e sincero “bom dia” muitas vezes tem o poder de poder mudar o curso de toda uma vida. Basta acreditarmos nisso. Mas se isso não der certo viaje até algum lugar do oriente e solte uma borboleta por lá, para que ela voe livre batendo suas asas na esperança que isso possa transformar o mundo em que vivemos (de preferência em algo melhor).

Enfim, na dúvida dê bom-dia ao caos, pois se os seres humanos sofrem com suas crises de humor, quem dirá a essência do caos, que com sua forma alucinada pode variar entre todos os estados de humor (passando pelos municípios, cidades e países do humor também), e receber bem este pequeno gesto. Tratar o mundo caótico que nos rodeia com a mesma gentileza com que gostaríamos de ser tratados, é uma forma de se demonstrar que você também sabe lidar com a loucura... Ou que já está completamente contaminado por ela.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Impressão digital não causou boa impressão

Conforme pesquisas científicas baseadas em cálculos matemáticos (ou talvez tenham sido cálculos matemáticos baseados em pesquisas cientificas), a probabilidade de duas pessoas terem a mesma impressão digital é de aproximadamente uma em dois bilhões, ou seja, em um mundo globalizado com quase sete bilhões de indivíduos, a chance de você ter a mesma digital de outra pessoa está cada vez maior (apesar de ainda ser infimamente pequena).

Mesmo com este dado dando o que pensar a nós, seres pensantes, a biometria aliada à informatização neste nosso planetinha cada vez mais parametrizado e encapsulado por rígidas regras seladas com a mais pura “BURROcracia” que as criaturas humanas podem criar, poderão vir a trazer problemas no futuro para aqueles “felizardos” que por ventura tiverem suas digitais idênticas as de outras pessoas, principalmente se o sistema biométrico de digitais assumir o posto de identificador máximo dos seres de nosso presente futuro.

Imagine fulano começando em um novo serviço todo contente, logo após a entrevista de emprego. Ele chega até a sala de recursos humanos da empresa e se apresenta para a atendente do setor de RH. Lá o infeliz felizardo acaba tendo uma estranha surpresa. Algo que aconteceria mais ou menos assim:

-         Olá, bom dia, meu nome é Pedro, passei na entrevista de emprego e irei começar esta semana na empresa.

-         Bom dia senhor Pedro, para efetivarmos seu cadastramento basta o senhor colocar sua digital neste aparelho biométrico para confirmar seus dados, ok?

-         Claro.

Ele insere sua digital no aparelho e em poucos instantes as informações começam a escorrer pela tela do computador. O conteúdo que aparece vai deixando a sobrancelha direita da atendente levemente sobressaltada (e quem conhece algum funcionário de recursos humanos, sabe que isso não é um bom sinal). A atendente olha nos olhos do novo empregado, já recuperada de seu rompante de assombro externado pelo singelo movimento de sua sobrancelha direita, e diz:

- Bem, infelizmente houve um pequeno problema, de acordo com a sua analise biométrica o sistema está informando que o senhor na realidade se chama Paola, é de origem asiática e, apesar de solteira, está grávida de quatro meses.

-         Isso é impossível, deve ser algum erro do sistema.

-         Infelizmente todo o processo de admissão funcional é baseado em nosso sistema global de informações que é integrado ao do governo e aferido por ele, sendo considerado à prova de falhas. De acordo com a sistemática da empresa se há algo errado aqui, provavelmente é a senhora, e não o sistema.

-         Isso quer dizer que não fui admitido?

-         Na realidade a senhora sofreu um remanejamento interno devido aos novos fatos apresentados pelo sistema, não trabalhará mais na área de engenharia, mas devido a nossa cota destinada a imigrantes ilegais, irá ser realocada para trabalhar no setor de limpeza da fábrica.

-         Por favor, pare de me chamar de “senhora”, eu sou homem...

-         tudo bem, nós podemos resolver facilmente este “detalhe”, já que a empresa dispõe de um ótimo plano médico que inclui eventuais mudanças de sexo. A propósito, seu pedido para jogar no time de futebol foi negado, por não aceitarem jogadores de outro sexo, já que o time é masculino, mas o sistema acabou de cadastrar você nas reuniões semanais do atelier de crochê.

-         Mas, isso está errado, eu sou homem, entendeu? HOMEM!

-         Se a senhora continuar insistindo em afirmar que seu cadastro no sistema está errado, poderá responder por falsidade ideológica, com sérios problemas jurídicos e penais contra sua pessoa. Nossa cota para imigrantes ilegais que queiram se naturalizar, também conta com um cadastro para auxiliar nos relacionamentos de funcionários de outras subordinadas, e o seu perfil já recebeu algumas intenções de namoro, inclusive com propostas de casamento do um empregado do setor três “C” da ala norte da fábrica 15.

-         Mas aqui no meu currículo tem uma foto minha demonstrando que sou Homem.

-         Sim, mas este foi um dos fatores que parece ter atraído ainda mais o seu pretendente, já marcamos um encontro entre vocês para o próximo sábado. A propósito, o codinome utilizado no perfil dele foi “Paulão tripé”, e ele se autodenomina como “armário do amor”.

-         Uiiiiii...

Depois de alguns meses, Pedro finalmente consegue descobrir que havia uma mulher na Ásia chamada de Paola com a mesma impressão digital que a dele, provando assim que ele era ele mesmo. Para não perder o emprego e não ser deportado, ele se aproveitou de uma brecha do sistema e casou-se consigo mesmo, garantindo assim o seu futuro na empresa.

Hoje em dia o nosso personagem Pedro vive feliz e bem casado, morando sozinho e fazendo lindos casaquinhos de crochê, mas diz que não pretende ter filhos. Paulão se tornou seu melhor amigo, garantindo assim uma amizade que se tornaria de anos entre eles. FIM.