sábado, 17 de julho de 2010

PARALISAÇÃO EM PROL DAS MASSAS

 

 (Autor: Antonio Brás Constante)

 

Resolveram paralisar por uma hora o serviço. Ao meio-dia. “Não tinha horário melhor”, disseram. A aprovação foi de todo corpo funcional. Com esta decisão conseguiram unir o útil ao agradável, pois foram convocados para se reunir dentro do restaurante. Era uma adesão em massa e querendo massa (com muito molho e queijo ralado por cima).

 

Cada um que chegava ao local marcado já ia ansioso colhendo as informações mais importantes, tais como: qual era o cardápio do dia, se a mesa que ficava próxima ao bufê ainda estava desocupada e, é claro, se alguém tinha notícias do andamento das negociações.

 

Alguns aproveitavam a multidão de ouvintes silenciosos (só se ouviam os sons das mastigadas vorazes ecoando pelo ambiente), para falar das propostas que seriam apresentadas. Falavam literalmente de boca cheia.

 

As informações e travessas de comida transitavam pelas mesas, e todos esperavam ansiosos por boas novas e principalmente pela sobremesa.

 

Apesar da indignação geral, um sorriso se destacava em meio à multidão, era o Josias (nome fictício: poderia ser Flávio, Décio, etc.), dono do restaurante, que nunca tinha visto tantos clientes juntos.

 

Quem teve a idéia de se reunirem naquele lugar foi um gênio (muitos acharam que foi o Josias), pois juntou a fome com a vontade de comer, no sentido real e figurado.

 

As discussões eram cheias de controvérsias. Uns achavam que ir ser sopa, outros diziam que não. Ninguém sabia ao certo se estavam falando da comida ou do acordo, mas concordavam que para avançar nas negociações e nas refeições teriam de ir “comendo pelas beiradas”.

 

Se por um lado não faltava assunto, por outro faltavam pratos e talheres. Eram pessoas honradas buscando seus direitos. Tinham, sobretudo, fome e sede de justiça, de um bom suco gelado e de uma deliciosa carne de panela, acompanhada com arroz branco, feijão e salada de tomate.

 

Todos esperavam que aquela demonstração de força conseguisse deixar a diretoria tremendo nas bases. Mas, sendo a hora do almoço, provavelmente a administração se manteria de pulso firme, pois com a mão tremendo não conseguiriam colocar nada na boca. Se bem que talvez o momento exigisse um regime severo. Afinal, quem come não fala e quem cala consente. (Nota do Autor: tenho de parar de escrever antes das refeições, senão o assunto sempre vai seguir os desejos de meu estômago).

 

SOBRE O AUTOR: Antonio Brás Constante se define como um eterno aprendiz de escritor, amigo e amante da musa inspiração. Lançou recentemente o livro: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”, disponível pela editora AGE (www.editoraage.com.br).

 

 

terça-feira, 13 de julho de 2010

Da primavera até,,, a primavera

Enfim chegou a primavera (sei que estamos em outubro, mas o texto foi escrito em setembro... de 2004), a estação mais bela do ano. Depois dos rigores do inverno, a primavera chega com seu clima ameno, sendo um ponto de descanso, ideal para recarregar as energias das pessoas, deixando-as devidamente descongeladas para o período de verão que se aproxima, repleto de calor, praias e muito sol.

 

A primavera é uma estação sempre bem-vinda, quase como se fosse uma prima de nome Vera, que vem todos os anos trazendo cores, flores e abelhas aos seres humanos. Mesmo aos alérgicos ao pólen. Na verdade, a origem da palavra primavera não tem nenhuma ligação com qualquer tipo de homenagem feita para prima de alguém. A expressão vem do latim "primo vere", que significa: "no começo do verão".

 

O clima primaveril dispõe de muitas variações que brincam com nossas sensações. Pela manhã geralmente é frio, forçando as pessoas a saírem de casa com seus casacos ou blusas. Durante o dia o tempo esquenta, incentivando qualquer indivíduo a retirar o excesso de roupas que porventura esteja usando, passando a carregá-las nos braços a procura de algum cabide onde possa deixá-las. Por fim chega o final do expediente. Um resto de sol ainda aquecendo o dia, colaborando para esquecermos nossa indumentária sobressalente no serviço e somente voltarmos a nos lembrar dela quando já estamos a caminho de casa ou do cursinho, passando a sentir novamente o frio  que agora chega através do manto estrelado da noite. Uma temperatura quase tão gelada quanto uma cerveja deveria ser, porém, bastante incômoda sem nossas vestes mais quentes.

 

Outra peculiaridade desta estação é que os dias em sua maioria são lindos, deslumbrantes, verdadeiros espetáculos da natureza. Muito parecidos com os dias que sonhamos para acontecerem em nossas férias, nos feriados e fins de semana. O único inconveniente é que estes dias maravilhosos ocorrem durante a semana. Assim passamos as horas olhando furtivamente pelas vidraças da empresa. De um lado a beleza do dia nos convidando para desfrutarmos de todo seu esplendor, e do outro lado a figura do seu chefe, sugerindo que você volte sua atenção ao trabalho, ao invés de ficar suspirando.

 

A angústia vai tomando conta de seus pensamentos ao ver pela janela do escritório o sol indo embora a cada hora que passa. Quando por fim consegue sair da empresa, o sol dá seu último aceno e some no horizonte, prometendo voltar no dia seguinte, apenas para atormentá-lo no serviço novamente.

 

A primavera, também é a estação dos amantes, vários namoros começam durante seus meses perfumados com o desabrochar das rosas, se intensificando no calor do verão até que, com início do inverno, uns decidem partir para algo mais oficial, enquanto outros sentem em meio ao frio, que estão se metendo numa possível fria e resolvem terminar tudo. Mas não há motivos para preocupações, pois os corações partidos geralmente se curam com a chegada de uma nova primavera.


domingo, 4 de julho de 2010

Os sofredores de dois mil e dez (ligado)

Nos tempos das cavernas as tribos se dividiam entre os caçadores que atacavam e tinham que furar a defesa adversária (entenda-se o corpo de seus inimigos) com suas lanças pontiagudas, enquanto um segundo grupo ficava defendendo o próprio território com unhas e dentes (e cabeçadas, chutes, mordidas, etc.). Naquele tempo o mata-mata era literal e cruel em nome da sobrevivência (algo mais ou menos parecido com o que acontece hoje nas guerras entre grandes corporações financeiras).

Nestes eventos antigos, quem ia ao combate: ou ganhava, ou morria pelo caminho. Mas o fardo de quem defendia era o pior, pois eles eram escravizados e amaldiçoados, tornando-se verdadeiros sofredores.

Toda esta disputa acabou ficando enraizada no DNA humano, garantindo seu espaço nos dias atuais (juntamente com as células de gordura que um dia já foram um fator mais desejável para o nosso organismo). Com o passar do tempo vários aspectos das ancestrais batalhas foram se traduzindo no que hoje entendemos como FUTEBOL. Os sofredores também se modificaram e hoje são conhecidos como goleiros.

Se o gol acontece, sai junto com ele à expressão máxima do som humano, ou seja, o grito, que indiferentemente se é de dor, tristeza ou alegria, utiliza os pulmões de forma soberana. Em segundo lugar ficam as gargalhadas, e disputando a terceira posição temos o pum, o ronco, a tosse e os espirros (não necessariamente nesta ordem). Mas quando um goleiro consegue de modo heróico efetuar uma defesa, o que se ouvem são apenas suspiros, resmungos e lamentações sem muita empolgação.

O mundo do futebol é todo modelado para que os gols aconteçam (para total desespero dos goleiros), não é à toa que são dez jogadores em campo atacando e querendo marcar o seu golzinho (e isso inclui os zagueiros), contra apenas um ser solitário e deixado para trás, que fica sempre tentando atrapalhar a festa das torcidas e dos artilheiros.

Na copa os jogadores sofrem, a grama pisoteada sofre, os técnicos (sempre apontados como a causa e a solução para todos os problemas em campo) sofrem, as torcidas sofrem, os insetos atropelados pela bola sofrem, nações inteiras sofrem, mas ninguém sofre mais do que o bom e velho goleiro. Durante cada partida as faltas imperam no tablado do gramado. Falta uma boa escalação, falta de talento, falta de sorte, falta de gols, etc. Mas o peso sempre é maior quando falta ao goleiro (na fração de segundo que antecede o gol) a defesa necessária para evitar a derrota amarga.

Todo goleiro, sem exceção, defende muito mais do que falha, mesmo no caso da Coréia, que levou sete gols de Portugal. O goleiro coreano defendeu muito mais vezes do que os gols que tomou, mas isso não importa. O mesmo vale para os “frangueiros” da copa, como no caso do excluído Green, um bom goleiro que por infelicidade tomou um frango e perdeu a posição como titular. Por outro lado se os ditos goleadores como Luis Fabiano (já escalado para seleção de handebol) ou Cristiano Ronaldo, passam meses sem fazer gols, isso necessariamente não ameaça a sua titularidade em campo, porque são “craques” (onde o craque parece virar sinônimo do crack, já que ambos se apresentam como verdadeiras drogas).

Os goleiros podem fazer defesas fantásticas que mesmo assim não levam o mérito merecido (ou mesmo o merecido mérito). Por exemplo, no jogo entre Itália e Nova Zelândia, onde o goleiro Paston fez defesas incríveis (em alguns casos quase impossíveis), o que saiu na imprensa? Que a Itália jogou mal, que os jogadores italianos estavam em uma fase ruim, mas cadê o mérito do goleiro? A Itália perdeu porque jogou mal ou porque naquela partida havia uma muralha humana e solitária em seu caminho?

Enfim, em copa do mundo de jabulani, onde ninguém sabe ao certo a trajetória da bola (ou mesmo quem ganha e quem perde o mundial), os sofredores, sempre tão culpados pelas derrotas de seus times, quem sabe agora possam compartilhar um pouco dessa culpa com a bola... Ou não. Para terminar, fica a cena da seleção brasileira (formada por um Dunga, onze sonecas e uma torcida de 190 milhões de zangados) entrando em campo com cara de quem ia chupar a laranja até sair suco, mas no final acabou chupando bala, e o que talvez fosse Brasil acabou sendo BraZEBRA.